Alimentação: guerra à gordura trans
Criada pela indústria para deixar a comida mais
saborosa, crocante e atraente, ela se tornou um dos maiores vilões da
alimentação moderna. O mundo quer se livrar de seus efeitos nocivos.
Saiba por que você deve tirá-la de sua vida.
Um
movimento ruidoso mobiliza países do mundo inteiro em torno de um
objetivo comum: eliminar da alimentação a gordura trans, um dos mais
poderosos inimigos da saúde já identificados. Conhecida também como
gordura vegetal hidrogenada, ela foi criada pela indústria para
aumentar o prazo de validade dos alimentos e deixá-los mais saborosos,
crocantes e macios.
Nos anos 80, quando
o seu uso virou febre em biscoitos recheados, bolos, sorvetes,
chocolates e fast-food, imaginava-se que ela seria uma alternativa
saudável às gorduras animais. Hoje, está provado rigorosamente o
contrário. A trans é infinitamente mais danosa do que as temidas
gorduras vindas do bacon, da pele de frango, dos queijos amarelos ou
dos suculentos cortes de picanha e de carne de porco.
O
que há de novo nessa batalha é a determinação de simplesmente banir a
gordura trans da rotina das pessoas. Por ordem e empenho pessoal do
prefeito de Nova York, o empresário Michael Bloomberg, nenhum
restaurante da cidade poderá trazer sequer vestígios de trans em seus
cardápios a partir de julho deste ano. “A medida se impõe porque as
doenças cardiovasculares são as principais causadoras de morte no
mundo”, justifica o secretário de Saúde nova-iorquino, Thomas Frieden.
Na Austrália, um dos países pioneiros nessa frente de combate,
campanhas e leis para desestimular o consumo não são menos brandas. A
Dinamarca não só proibiu o uso como julgou a trans uma substância
ilegal no país.
Os produtos que ainda a
contêm são identificados com uma constrangedora tarja negra no rótulo.
A mensagem é clara: quem quer comer que assuma o risco. Na Inglaterra,
pressionado por autoridades e especialistas, um consórcio de indústrias
de alimentos anunciou dias atrás que irá reduzir drasticamente as
porções de gordura trans em seus produtos até o final deste ano. Também
recentemente o Canadá anunciou que está discutindo uma legislação nada
amena a respeito do problema.
O Brasil
precisa voltar com mais rigor a esse front. A única legislação sobre o
assunto até agora determina que as empresas informem a quantidade de
todos os componentes, inclusive a gordura trans, nos rótulos dos
produtos. O prazo para esta adequação esgotou-se em julho do ano
passado, mas até hoje é possível encontrar mercadorias nas gôndolas dos
supermercados sem essas descrições. “A fiscalização começará agora. As
empresas que não estiverem de acordo com a lei serão multadas”, afirma
Antônia Aquino, da Anvisa. “O cidadão deve ficar atento e denunciar as
empresas irregulares aos órgãos de defesa”, avisa Murilo Diversi, do
Instituto de Defesa do Consumidor. Associada ao desconhecimento, uma
artimanha usada por muitos produtores induz os consumidores ao erro.
Muitas
embalagens trazem mensagens gritantes do tipo “livre de gordura trans”.
Mas, quando o consumidor consulta a lista de ingredientes, verifica que
há na composição uma certa quantidade de gordura vegetal hidrogenada. É
a mesma coisa. “E, infelizmente, a legislação dá brecha para isso”,
explica a nutricionista Eliana Gimenez, do Hospital Beneficência
Portuguesa, de São Paulo.
Fórmula perversa –
Mas afinal de contas: o que faz da gordura trans esse vilão dos tempos
modernos? O grande problema está em sua composição, uma reação química
na qual se utiliza o hidrogênio para transformar óleos vegetais
saudáveis, como os de soja, girassol, milho e canola, em um tipo de
gordura sólida. Este composto artificial, induzido, não é reconhecido
nem metabolizado pelo organismo. Por isso, circula praticamente
incólume em toda a corrente sangüínea, entupindo veias e artérias com
eficiência e rapidez bem maiores do que as saturadas e vegetais
clássicas.
A trans, a exemplo das outras
duas gorduras, também mexe com o colesterol – mas, novamente, de forma
bem mais nociva. “Embora as gorduras animais, ou saturadas, aumentem a
fração ruim do colesterol, o LDL, elas não interferem na parte boa, o
HDL, que circula pelo corpo varrendo os restos de gordura”, explica o
cardiologista Elias Knobel, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
“A trans não só aumenta o colesterol ruim como diminui de maneira
importante o bom colesterol”, completa ele.
Há
mais motivos para que ela seja vista como uma adversária da vida
saudável. A trans aumenta também a dose de triglicérides, uma outra
fração de gordura que circula no sangue e está associada ao
desenvolvimento da diabete. Pesquisas recentes em mulheres obesas
mostram também que ela aumenta a quantidade de substâncias com efeito
inflamatório em vasos e artérias, o que facilita o surgimento da
aterosclerose. Essa doença inflamatória crônica evolui para o
surgimento de placas de gordura e cálcio no interior das artérias e
contribui para o endurecimento dos vasos sangüíneos.
Ameaças
– Há um consenso entre os especialistas dedicados ao assunto: consumir
habitualmente esse tipo de gordura em quantidades maiores do que o
tolerável aumenta drasticamente os riscos de se ter colesterol alto,
hipertensão, diabetes e obesidade, além da aterosclerose. Esses males
roubam a qualidade de vida das pessoas e aumentam as estatísticas de
morte por problemas cardiovasculares. A Organização Mundial de Saúde
(OMS) alerta que o consumo total diário de trans não pode passar de
dois gramas, o equivalente a 1% do total de uma dieta de duas mil
calorias. Na verdade, uma criança ou adolescente que abre um pacote de
biscoito recheado e come três deles já estourou a cota (leia quadro com
o teor de trans dos alimentos abaixo).
E
qual o melhor caminho para fugir deste inimigo aparentemente
onipresente? Rigor e informação. A professora de artes Sandra Arouca,
de São Paulo, excluiu da lista de compras os produtos ricos em gordura
trans e os que não fazem menção à presença do ingrediente em sua
composição. As necessárias substituições têm de ser administradas em
negociações com os filhos Luiza, dez anos, Júlio, três, e Léa, um.
“Eles querem salgadinhos, biscoitos e cereais prontos. Compro um dos
produtos que pedem e explico com toda paciência por que não levarei os
outros”, conta. A empresária carioca Cris Abdalla Pelaio não levava o
assunto a sério até se casar com o personal trainer Marcelo Pelaio.
“Mudei a rotina. Passei a ter critério na escolha e a fazer compras com
maior atenção”, explica ela.
Os
empresários também começam a procurar caminhos. Os donos da rede de
restaurantes Wraps, Marcelo Ferraz e Caio Mesquita, negociam há quatro
anos com seus fornecedores produzir pães e sobremesas sem gordura
trans. “Trabalhei muito tempo em uma grande empresa do setor de
alimentação e tive acesso a estudos que mostravam os malefícios da
trans. Aprendi muito”, revela Ferraz.
Alternativas
– O desafio da ciência e das indústrias alimentícias é encontrar um
ingrediente que substitua a trans sem alterar o sabor e a consistência
dos produtos. “A substituição é possível. Muitos já utilizam
tecnologias para fabricar seus produtos livres de trans”, explica
Renato Grimaldi, do departamento de óleos e gorduras da Unicamp. Um dos
candidatos mais cotados é o óleo de palma, o popular azeite de dendê
das moquecas baianas. Há processos capazes de transformá-lo numa
gordura sólida menos nociva. Ele já é usado em alguns sorvetes,
margarinas, biscoitos e também em receitas de redes de fast-food como a
árabe Habib’s. Recentemente, a McDonald’s anunciou uma redução generosa
de gordura trans de suas batatas fritas. São exemplos que precisam ser
copiados.
CONTROLE O SEU CONSUMO
O limite diário de ingestão de trans aceito pelos especilaistas é de dois gramas. Conheça os alimentos com altas taxas
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