EU SOU NORMAL
Nos Estados Unidos eles são chamados de nerds. No Brasil, há muito
tempo, são conhecidos como CDFs. Pálido, ar abobalhado, olhos grudados
nos livros, esse personagem está em extinção.
Hoje os melhores alunos,
aqueles que tiram os primeiros lugares nos vestibulares, são jovens
normais, com interesses próprios da idade. Gostam de rock e esporte,
namoram e se divertem. Não são superdotados ou gênios, apenas pessoas
comuns, que perseguiram um objetivo de maneira mais persistente.
O
recifense Rodrigo Caldas Dantas, 18 anos, primeiro lugar geral e em
medicina da Universidade de Pernambuco, é um exemplo. Alegre e
descontraído, o fã do grupo Legião Urbana e da banda heavy metal
Metallica, passou o último ano estudando, mas não arredou pé de seus
programas preferidos: ir ao cinema com a namorada e jogar suas peladas
na praia de Boa Viagem.
Cintia Chaparro Rocha, 19 anos, primeiro lugar
em direito na Universidade de Brasília, é vaidosa como qualquer garota.
De minissaia e maquiagem suave, ela lembra que, mesmo enfurnada em
apostilas, não deixava de se arrumar e dançar pela casa, uma de suas
paixões.
É fato que eles estudaram bastante, até seis horas por dia.
Mas a diferença que os faz vencedores reside mais na qualidade do que
na quantidade de estudo, e na motivação com que assumiram essa batalha.
Isso ficou claro no I Encontro de Vitoriosos no Vestibular, evento
organizado pelo médico e empresário Lair Ribeiro com o intuito de
fornecer dados para um dos capítulos de seu próximo livro, Como passar
no vestibular, a ser lançado em dezembro. Além de Rodrigo e Cintia,
Ribeiro reuniu 20 aprovados em primeiro lugar de universidades de São
Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Brasília, Aracaju, Fortaleza,
Belém, São Luís e Juiz de Fora.
Do grupo, nenhum deles esperava a pole position. “Quando o reitor me
telefonou avisando, achei que era trote”, lembra Rodrigo. Apenas três
fizeram escola pública, o que comprova a idéia de que a entrada em uma
boa universidade é também a consequência de uma vida escolar produtiva
e de qualidade.
Autor de dez livros de neurolinguística e auto-ajuda,
Lair Ribeiro expôs sua tese sobre o sucesso desses jovens. Na sua
opinião, mais do que informações, os vitoriosos são ricos de percepção
e intuição. “Intuição é fazer decisões corretas com dados incompletos.
Em tempos de transição, onde o caos predomina, percepção apurada e
intuição são os melhores instrumentos. É isso que irá importar no ano
2030.” A eficácia do aprendizado foi outro tema longamente debatido.
Para Ribeiro, é essencial pensar no estudo com prazer.
Ele auxiliou uma
aluna a gostar de matemática associando a disciplina ao chocolate, a
guloseima preferida da garota. Música de fundo baixa e canetas
coloridas para escrever são igualmente consideradas importantes, pois
ativam diferentes partes do cérebro. “Pouca gente sabe, mas o movimento
dos olhos é crucial para o aprendizado. Ao olhar para cima, ou para a
esquerda, a pessoa está ativando a memória”, diz ele.
Para muitos dos jovens presentes, essas técnicas sempre foram
usadas, sem que eles se dessem conta de sua existência. É porque,
inconscientemente, as pessoas desenvolvem um estilo próprio de
aprendizado.
Ele pode ser visual, linguístico, interativo, entre
outros. Hoje cada vez mais ganha força a idéia de que o ser humano tem
múltiplas inteligências, tese aprofundada pelo cientista americano
Howard Gardner, da conceituada universidade de Harvard, autor do
recém-lançado Leading minds, an anatomy of leadership (Mentes de
vanguarda, uma anatomia da liderança).
Gardner cita como detentor de
inteligência lógica Albert Einstein, enquanto Mahatma Gandhi, por
exemplo, é considerado próspero em inteligência interpessoal, a que
garante à pessoa sensibilidade para reconhecer e distinguir sentimentos
alheios.
A motivação e a vontade aparecem sempre como requisitos primordiais.
“Sem elas, não se chega a lugar nenhum”, atesta a carioca Bianca
Marques Santiago, 18 anos, primeiro lugar em odontologia na UFRJ.
Bianca se motivou a sair vencedora por um fator aparentemente
inusitado.
Na opinião de Lair Ribeiro, tudo que se faz na vida
(estudar, trabalhar, casar etc.) é por dois únicos motivos: evitar
sofrimento ou ter prazer. Bianca se encontra na primeira categoria. O
conflito familiar devido à separação dos pais, na época em que se
preparava para a prova, funcionou como mola propulsora. “Já que estava
tudo caótico, me desafiei a sair bem. Coloquei na cabeça que não iria
estudar para o vestibular uma segunda vez e parti para a ação.”
Quando
não está assistindo às aulas de odontologia, Bianca pode ser encontrada
no cursinho PH, onde trabalha como monitora, esclarecendo dúvidas na
área de biológicas, sua especialidade. Proprietário da escola, Paulo
Henrique Martins descobriu que essa é uma bela maneira de motivar a
rapaziada a estudar. Há um ano, contrata os melhores alunos das
universidades para esse trabalho.
A motivação, aliás, é uma das
principais armas do PH. Na véspera do vestibular, Martins escolhe 50
alunos do cursinho e liga pessoalmente para eles, desejando boa prova.
“A moçada fica empolgadíssima e o resultado no dia seguinte é positivo.
Tem dado certo.”
Entre os jovens que todo ano prestam vestibular, há um grupo
que se submete à prova somente a título de experiência. Alguns se
inscrevem como treineiros (o vestibular da Fuvest, organizado para
preencher as vagas da Universidade de São Paulo e de outras três
escolas superiores mantém uma categoria e uma inscrição próprias para
eles), outros preferem checar seus talentos na raia tradicional.
Este é
o caso do paulistano Pedro Lauridsen Ribeiro, 17 anos, que já se
inscreveu e viu seu nome duas vezes na lista dos aprovados em
engenharia da USP. “Não me deixaram cursar”, lamenta. Pedro é um tipo
raro: um geniozinho. Ele somente termina o colegial este ano.
Em 1997
espera estar matriculado no curso desejado, o de engenharia química. O
garoto que aprendeu a ler aos três anos e tem 148 pontos de QI (a média
é 110) foge do padrão dos adolescentes vitoriosos: nunca namorou, não
gosta de esportes e suas preferências literárias são incomuns para um
garoto de sua geração, alimentada, em geral, na frente da televisão.
“Acho difícil alguma menina me aguentar”, diz.
Por quê? “Tem que ter
muita boa vontade, eu não sou fácil.” Isso fica compreensível quando se
conhece um pouco de sua rotina. Depois das aulas, Pedro volta para
casa, onde se reveza entre o piano, que dedilha desde os dez anos, e o
computador. Leituras ocupam o resto do dia e elas podem variar de
Umberto Eco aos poetas Manuel Bandeira e Cruz e Sousa. À noite,
dedica-se ao que chama de Projeto Ksi.
“Em grego, ksi significa a letra
x”, explica. Seu plano é se tornar um pesquisador científico e formar
uma corporação social, que tem como meta dar formação escolar, técnica
e profissional para pessoas que vivem nas ruas. “Para conseguir o
capital, irei antes trabalhar em empresas e vender patentes. É um
projeto que será fomentado devagar”, prevê Pedro, com o sorriso
paramentado por um aparelho ortodôntico e o olhar nas alturas. É claro
que não sobra tempo para as meninas.
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