Na Fuvest, olho em biologia e geografia
Biologia e geografia foram as matérias nas quais um grupo de 60 alunos
menos pontuou em um simulado preparado pelo cursinho Anglo a pedido do
Estadão.edu. A média de acerto de questões da turma nessas disciplinas
ficou em 63 e 71 pontos, respectivamente.
Embora o
desempenho geral seja considerado satisfatório, é justamente nessas
disciplinas que podem entrar assuntos cotados para tornar o vestibular
mais contextualizado. Numa pesquisa da reportagem sobre atualidades com
17 professores e coordenadores de 4 cursinhos pré-vestibulares,
biocombustíveis, pré-sal, biomas brasileiros, Teoria da Evolução e
doença de Chagas foram os mais citados como temas que podem cair na
prova.
O coordenador-geral do Anglo, Nicolau Marmo, diz
que o exame não teve, como o Enem, uma divisão por grau de dificuldade.
“Não houve preocupação em nivelar as questões em cada disciplina. A
Fuvest é isso. Só com a Teoria da Resposta ao Item (TRI, conjunto de modelos matemáticos usado no novo Enem)
poderíamos estabelecer questões fáceis, médias e difíceis.” Marmo
acredita que isso não tira o mérito do simulado como oportunidade de
rever as matérias. “Quando eles fazem uma prova e revisam o que
erraram, é como se tivessem rendimento de 100%, porque viram todo o
conteúdo.”
No grupo de estudantes que fez o simulado,
96% são candidatos a uma vaga na Fuvest. Os outros 4% fizeram o exame
porque consideram a prova um bom parâmetro de desempenho em outros
vestibulares.
Os vestibulandos tiveram cinco horas para
responder a 90 testes de português, matemática, história, geografia,
química, física, biologia e inglês. Mais da metade do grupo (34) ficou
na sala até o fim do período de prova, mas, depois de duas horas,
alguns começaram a sair para ir ao banheiro.
Marcela
Massarotto, de 18 anos, candidata a uma vaga em Direito na USP, PUC,
Unesp e Mackenzie, aproveitou a oportunidade para se alongar. “É uma
técnica que aprendemos no cursinho. A gente se espreguiça, estica as
pernas, mexe o pescoço. O sangue não circula se ficamos muito tempo
sentados.”
Candidato a uma vaga em Arquitetura na USP,
Felipe Golzio Barradas, de 18 anos, considerou a prova de geografia
extensa e difícil. Thalita Suzuki Nogueira, de 19 anos, acha que se
saiu mal na disciplina. “Deixei essa prova e a de história por último.
Tive 30 minutos para fazer as duas e ainda preencher o gabarito.”
Básicos
Outros
candidatos tiveram dificuldades com conteúdos básicos das disciplinas.
“Estava difícil. Em química eu não lembrava de entalpia e velocidade da
reação; em física, não lembrava de atrito. Agora vou revisar esses
conteúdos”, disse Allana Giordano, de 17 anos, candidata a uma vaga em
Medicina na USP e na Unifesp.
João Eduardo Vieira, de
16, que também vai prestar Medicina (na Unesp, Unifesp e UFABC), achou
a prova “chatinha” de fazer. “Tenho dificuldade com física e preciso
ter paciência para ler os enunciados”, admitiu.
Felipe
Bueno, de 22, vestibulando de Medicina na USP, Unifesp e na Faculdade
de Medicina de Marília (Famema), saiu do simulado pensando numa questão
de biologia, sobre circulação sanguínea. “Não lembrava se o sangue ia
do pulmão para o átrio. Marquei esta alternativa. Ou foi o contrário?
Agora, me confundi.”
Felipe disse que, mesmo tendo
dificuldade em Exatas, não é por aí que vai começar a prova da Fuvest.
Prefere dar atenção às questões de Humanas, que exigem concentração
para interpretar. “Vou ler com a cabeça descansada, depois faço
matemática e física.”
Os estudantes também reclamaram
do cansaço por terem feito simulados nos dias anteriores ao teste. Os
que estão concluindo o ensino médio e se submetendo à preparação dos
cursinhos têm a rotina de estudos ainda mais pesada. “Não dá tempo de
dormir, tenho as tarefas mínimas da escola e as provas, os exercícios
complementares do cursinho, os simulados. Cansa demais”, diz Marcella,
que acorda às 5h45 para ir à escola, vai para o cursinho à tarde e, de
noite, estuda “até não aguentar mais”. “Tenho de tomar um monte de
café.”
Conselhos
Embora
evitem falar em “apostas”, “dicas” ou “palpites” para a Fuvest, os
professores e coordenadores de cursinhos aconselharam os alunos a darem
uma “olhadinha” em alguns assuntos antes das provas. Na consulta feita
pela reportagem, ética, medo e vida moderna apareceram como possíveis
temas da redação. Os professores também recomendaram que revisem temas
de efemérides: os 150 anos da doença de Chagas, os 200 anos da Teoria
da Evolução, os 20 anos da queda do muro de Berlim, os 50 anos da
Revolução Cubana e os 60 anos da Revolução Chinesa.
Coordenadora
de geografia do cursinho e do colégio Objetivo, Vera Lúcia Antunes,
chamou a atenção para o peso crescente da disciplina no vestibular. Em
maio, a Fuvest divulgou a relação de provas específicas para a 2ª fase:
geografia se tornou obrigatória para 24 carreiras. “A matéria discute
desde a guerra na Geórgia até o conflito dos arrozeiros da reserva
Raposa Serra do Sol, e também meio ambiente, cartografia e as mudanças
econômicas do mundo.”
Números:
Notas:
No simulado, 32 alunos fizeram entre 60 e 68 pontos, suficiente para
aprovação em 44 carreiras da USP; 2 tiveram 77 acertos ou mais, nota de
corte para Medicina em 2009.
Tempo: A
prova começou às 14 h, com 60 estudantes. Cerca de 3h30 depois, só 4
alunos haviam terminado o exame. Mais da metade, 34, ficou até o fim.
Média: Matérias tidas como difíceis, matemática e física não tiveram alto índice de erros.
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