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Resumo de Livro

ANTOLOGIA POÉTICA – Carlos Drummond de Andrade (Resumo) – Parte 1

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Em 1962, Carlos Drummond de Andrade selecionou poemas para a edição de sua Antologia poética; no prefácio, o próprio poeta explica o critério de seleção e divide os poemas escolhidos em nove grupos com “certas características, preocupações e tendências” que condicionam ou definem o conjunto de sua obra. Transcrevemos, a seguir, um trecho do prefácio( os poemas entre parênteses é grifo nosso):

“O texto foi distribuído em nove seções, cada uma contendo material extraído de diferentes obras, e disposto segundo uma ordem interna. O leitor encontrará assim, como pontos de partida ou matéria de poesia:

1. 0 indivíduo (consolo na praia’);

2. A terra natal ( a terra natal);

3. A família (`a família que me dei’);

4. Amigos (`cantar de amigos’);

5. O choque social (Áporo);

6. O conhecimento amoroso (‘amar-amaro’);

7. A própria poesia (`a poesia contemplada’);

8.  Exercícios lúdicos (Quadrilha);

9. Uma visão, ou tentativa de, da existência (Cerâmica).

Observe abaixo para visualizar melhor a divisão de Drummond acerca de sua própria obra:

Divisão por seção Temática

1 – O Indivíduo O eterno conflito entre o eu e o social

2 – A terra natal Itabira – saudades e vivências

3 – A família Itabira e vivências íntimas do menino

4 – Amigos Homenagem aos amigos reais ou intelectuais

5 – O choque social A violência humana

6 – O conhecimento amoroso O amor altruísta (como só ele poderia existir)

7 – A própria poesia metalinguagem

8 – Exercícios lúdicos A consequência do amar e desamar

9 – Uma visão, ou tentativa de, a existência O estar no mundo

Em nosso material iremos analisar um poema de cada seção para que a você seja possível uma visão global das facetas deste poeta ( Observe a tabela e a numeração dos poemas):

1- Consolo na praia

Vamos, não chores

A infância está perdida

Mas a vida não se perdeu

O primeiro amor passou.

O segundo amor passou.

O terceiro amor passou.

Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.

Não tentaste qualquer viagem.

Não possuis casa, navio, terra.

Mas tens um cão.

Algumas palavras duras

Em voz mansa, te golpearam.

Nunca, nunca cicatrizam.

Mas e o humour?

A injustiça não se resolve.

À sombra do mundo errado

Murmuraste um protesto tímido.

Mas virão outros.

Tudo somado, devias

Precipitar-te de vez_ nas águas.

Estás nu na areia, no vento…

Dorme, meu filho.

O desconsolo do poeta encontra alento na esperança de melhores dias. Observe a preocupação do poeta com o mundo ao redor_ as injustiças e os amores que não são eternos.

2 – A terra natal

Confidência do itabirano

Alguns anos vivi em Itabira

Principalmente nasci em Itabira

Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.

Noventa por cento de ferro nas calçadas.

Oitenta por cento de ferro nas almas

E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação

A vontade de amar, que paralisa o trabalho

Vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.

E o hábito de sofrer que tanto me diverte,

É doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:

Este são Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;

Este couro de anta, estendido no sofá de visitas;

Este orgulho, esta cabeça baixa…

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.

Hoje sou funcionário público.

Itabira é apenas uma fotografia na parede.

Mas como dói!

A biografia lírica e real de Drummond reside em Itabira_ cidade que em vida adulta nunca mais voltou, mas cuja lembrança sentimental sempre reservou para si.

3 – Infância

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.

Minha mãe ficava sentada cosendo.

Meu irmão pequeno dormia.

Eu sozinho menino entre mangueiras

Lia histórias de Robison Crusoé,

Comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu a

 Ninar nos longes da senzala_ e nunca se esqueceu chamava para o café.

Minha mãe ficava sentada cosendo

Olhando para mim:

_Psiu…Não acorde o menino.

Para o berço onde pousou um mosquito.

E dava um suspiro…que fundo!

Lá longe meu pai campeava

No mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história

Era mais bonita que a de Robison Crusoé.

Imagens belas compõe este poema de uma maneira singular_ a família é o pano de funda da infância do poeta.

4 – Mário de Andrade desce aos infernos

Daqui a vinte anos farei teu poema

E te cantarei com tal suspiro

Que as flores pasmarão, e as abelhas,

Confundidas, esvairão seu mel.

Daqui a vinte anos: poderei

Tanto esperar o preço da poesia?

É preciso tirar da boca urgente

O canto rápido, ziguezagueante, rouco,

Feito da impureza do minuto

E de vozes em febre, que golpeiam

Esta viola desatinada

No chão, no chão.

Homenagem ao poeta Mário de Andrade.

5- Áporo

Um inseto cava

Cava sem alarme

Perfurando a terra

Sem achar escape

Que fazer, exausto,

Em país bloqueado,

Enlace de noite

Raiz e minério?

Eis que o labirinto

( oh razão, mistério)

presto se desata:

em verde, sozinha,

antieuclidiana,

uma orquídea forma-se.

Nenhuma luta é vã, pois plantar o amanhã é o papel social de todos.

6 – Sentimento do Mundo

Tenho apenas duas mãos

E o sentimento do mundo,

Mas estou cheio de escravos,

Minhas lembranças escorrem

E o corpo transige

Na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu

Estará morto e saqueado,

Eu mesmo estarei morto,

Morto meu desejo, morto

O pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram

que havia uma guerra

e era necessário

trazer fogo e alimento.

Sinto-me disperso,

Anterior a fronteiras,

Humildemente vos peço

Que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,

Eu ficarei sozinho

Desfiando a recordação

Do sineiro, da viúva e do microscopista

Que habitavam a barraca

E não foram encontrados

Ao amanhecer

Esse amanhecer

Mais noite que noite.

A guerra sempre foi alvo da crítica de Drummond, daí seu humanismo

7 – Poema-orelha

“Aquilo que revelo

e o mais que segue oculto

em vítreos alçapões

são notícias humanas,

simples estar no mundo,

e brincos de palavra,

um não-estar-estando, mas de tal jeito urdidos

o jogo e a confissão

que nem distingo eu mesmo

o vivido e o inventado.”

Metalinguagem – reflexão sobre a própria arte.

8 – Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo

Que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

Que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes

Que não tinha entrado na história.

O desencontro amoroso.

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