ESTADOS UNIDOS QUEREM CONTROLAR O ETANOL BRASILEIRO – Parte 1
Há 34 anos, o mundo percebeu que havia se tornado dependente de um único combustível. Mas mesmo após a crise de 1973, provocada pelo embargo das companhias de petróleo, poucos países arriscaram-se a procurar fontes alternativas de energia. O Brasil foi um deles. Com mais de 400 anos de experiência na cultura da cana-de-açúcar, resolveu tirar dos canaviais o combustível que, três décadas depois, transformaria-se na sua grande moeda de troca.
O responsável pela criação do Programa Nacional do Álcool (Pró-Álcool) em 1974, José Walter Bautista Vidal, físico e professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB), no entanto, critica o despreparo com que o governo negocia o seu grande trunfo. Vê com descrédito a visita do presidente norte-americano, George W. Bush, que chega na próxima quinta-feira, 8 de março, ao Brasil. E, em entrevista a UnB Agência, condena a aclamada parceria com os Estados Unidos nos setor do etanol. “O Brasil vai entrar com tudo e eles com nada. Nem negociar a sobretaxa que colocaram no nosso álcool eles querem. Como isso, pode ser uma parceria?”, questiona.
Três vezes secretário de Tecnologia Industrial do país, Bautista Vidal percebe equívocos na política atual do governo em relação aos combustíveis renováveis. Em dezembro de 2006, foi chamado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para sugerir propostas para os programas nacionais do biodiesel e do álcool.
“Disse a ele que o Brasil está despreparado para assumir a posição de liderança que tem hoje no setor, e por isso, está perdendo espaço para países como a Alemanha. Foi então que surgiu a idéia de criar uma empresa de economia mista responsável pela área dos renováveis”, conta o professor, que apelidou a proposta de “Petrobras dos renováveis”.
INVASÃO – Apesar de a redução das taxas de importação do etanol brasileiro nos Estados Unidos ser a principal reivindicação de Lula no encontro que terá com o presidente norte-americano, Bautista Vidal acredita que outros assuntos têm mais prioridade. “Os estrangeiros estão se apoderando do programa brasileiro por meio da compra de terras e usinas, e agora o Bush vem para consolidar isso. É preciso frear essa invasão, que aqui acontece não com armas, mas com dólares”, denuncia. Confira a entrevista na íntegra.
UnB Agência – O mundo vive atualmente um grande dilema no setor de energia. Há previsões de que as reservas de petróleo, nosso principal combustível, podem se esgotar em 35 anos. Essa é a hora de o Brasil, principal produtor de etanol, assumir uma posição de liderança?
Bautista Vidal – Estava nos Estados Unidos em 1973, quando aconteceu o grande embargo das companhias de petróleo. Foi terrível para eles, a sociedade americana desmoronou porque tudo ali era movido a petróleo. Eles perceberam, pela primeira vez, que era preciso reduzir o consumo, porque esse era um combustível que esgotava. Mas a crise daquela época foi provocada por uma política da indústria automobilística, de manter o baixo custo para aumentar a sua produção. Hoje, o problema é outro. Existe o risco de um colapso do petróleo, mas pela demanda que aumentou muito, e deve passar a oferta entre 2008 e 2010. Só os Estados Unidos consomem 25% de todo o petróleo do mundo. Eles têm uma reserva que supre apenas quatro anos de consumo. Na hora que isso acontecer, a crise se intensifica. Já o fato de isso estar sendo previsto com clareza, tem levado o mundo à guerra, principalmente, no Oriente Médio, envolvendo nações muito poderosas. Os Estados Unidos invadiram o Iraque, vão invadir o Irã. E vai acontecer o mesmo com a Venezuela, se não houver um substituto em dimensão nacional para resolver o problema. E esse substituto, o mundo todo já sabe: tem de ter como líder o Brasil. Não estamos preparados para assumir esse posto.
UnB Agência – Por quê?
Vidal – Porque o Brasil está entregando tudo ao inimigo. Por causa da dívida enorme do país, o dinheiro que poderia ser investido no etanol, é levado para fora. Enquanto isso, os estrangeiros estão comprando nossas terras e usinas inteiras, e, com isso, se apoderam do programa brasileiro, que foi implantado há mais de 30 anos. Agora, o Bush vem para consolidar isso. É um desastre essa visita. Estamos voltando à República Velha, do “entreguismo”. Mas é ainda pior do que na República Velha, porque os fazendeiros naquela época admitiam o controle do mercado, mas não entregavam a terra.
UnB Agência – Mas a visita do presidente George W. Bush ao Brasil não sinaliza o interesse em uma parceria entre os dois países na produção do etanol?
Vidal – Não existe parceria onde o Brasil entra com tudo e eles com nada. Reunimos as quatro condições essenciais para produzir etanol, que ninguém tem: sol, água, terra e tecnologia altamente avançada que o Brasil tem. E o que eles têm para dar? Não precisamos deles. Temos outros países, como Japão e China, muito interessados em comprar o nosso álcool. O que os Estados Unidos estão fazendo aqui é uma invasão, semelhante à do Iraque. Lá com bombas, e aqui, com dólares.
UnB Agência – Lula quer negociar a redução da sobretaxa que chega a R$ 0,30 por litro de álcool brasileiro importado pelos Estados Unidos. Mas Bush já disse que não vai nem tocar no assunto…
Vidal – Isso é uma palhaçada, um negócio desonesto. Aliás, a Organização Mundial do Comércio acabou de proibir esse protecionismo. O que o Brasil está pedindo não é nada de anormal: é não fazer violência. Mas os americanos não respeitam nenhuma legislação. Eles criaram essas taxas porque produzimos álcool pela metade do preço do deles, que é feito de milho, uma matéria-prima inadequada. Eles cobrem a diferença com o subsídio, que é contrário ao livre comércio e, com isso, fecham o mercado.
UnB Agência – De acordo com o subsecretário para o Hemisfério Ocidental do governo norte-americano, Thomas Shannon, um dos pilares de uma parceria entre Brasil e Estados Unidos seria criar “programas piloto” para países caribenhos que ainda não produzem etanol. Isso seria vantajoso para quem?
Vidal – Só para os americanos. Eles vão pegar a nossa tecnologia para colocar países que já são dominados por companhias dos Estados Unidos, como Guatemala, Honduras e El Salvador, para produzir álcool com o investimento deles. Mas então a produção será também deles. Isso não resolve o problema da energia no mundo. Eles distorceram a idéia da Opep Verde, que seria a união de países para investir em programas de biocombustíveis.
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