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Interpretação de Textos no Vestibular

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“Resolvi fazer as provas de interpretação de meus textos e não passei em nenhuma.” Mário Prata

Escritor fala sobre a interpretação de seus textos no vestibular

Autor de 15 livros, o cronista Mário Prata teve uma de suas conclusões selecionadas recentemente pela coluna Frases da revista Veja: “Resolvi fazer as provas de interpretação de meus textos e não passei em nenhuma. Não entendi nada.” Ele se referia aos gabaritos dos vestibulares da PUC de Campinas de 1997, da PUC de Curitiba de 1999, e de Medicina de Ribeirão Preto, também de 99. São textos diversos – todos com o humor característico e a linguagem coloquial, sincera, que fazem o sucesso de Prata como escritor. O problema é que o autor, pai da matéria, não conseguiu acertar nada.

Até aí, normal – a língua portuguesa é complexa, dificílima e, por ter um currículo de péssimo ensino nas escolas, transforma-se em terror dos vestibulandos, que, viciados na decoreba, se contorcem nas interpretações de textos nas provas das faculdades. Lisonjeado e ao mesmo tempo indignado, Mário Prata escreveu ao ministro da Educação, em forma de crônica publicada no jornal O Estado de São Paulo, sobre as questões “insolúveis” aplicadas sobre outra crônica sua, “As Meninas-Moça”, que caiu no vestibular 99 de Medicina de Ribeirão Preto.

A seguir, Mário Prata – cujo mais recente livro, Minhas Mulheres e Meus Homens (Editora Objetiva), está na lista dos mais vendidos de não-ficção – faz novo desabafo. Discorda do ensino de literatura nas escolas, questiona o formato das provas dos vestibulares e diz acreditar que cultura é algo “mais gostoso, prazeroso”, que não pode ser medido em testes.

Por que a crônica “As Meninas-Moça” foi a que mais rendeu polêmica? Você teve contato com os elaboradores da prova?

Mário Prata – Na PUC – Campinas caiu um pedaço de uma crônica que saiu na IstoÉ; na PUC de Curitiba, era uma crônica sobre frases engraçadas retiradas de boletins de ocorrência de acidentes de carro. A prova de Medicina era a mais confusa. Era uma crônica sobre o fim do time de vôlei patrocinado pelo Leite Moça. Tinha uma pergunta se a minha expressão “esparramados em seios esplêndidos” era uma paráfrase, uma metáfase, uma paródia e não me lembro mais o quê. Que raios pode ser isso? Resolvi perguntar ao ministro Paulo Renato. Depois escrevi uma carta para a reitoria da faculdade, perguntando se quem elaborou a prova sabe o que é “larica” (gíria que define uma fome exagerada, vontade compulsiva de comer – especialmente depois que se fuma maconha). Não tive resposta da faculdade.

Na sua opinião, qual é o maior problema que esse tipo de prova nos vestibulares traz à tona?

Mário Prata – São dois problemas básicos. Primeiro, o fato de os clássicos, aqueles livros de sempre, caírem nas provas de literatura do vestibular. Todo mundo sabe que interpretações desses textos são como forçar o estudante a saber uma coisa no mesmo nível de saber o nome de formiga em latim. Envolve uma relação de decoreba, obrigação e exatidão. Acho que isso afasta o universitário da leitura. Está provado. O segundo problema é que o ministro Paulo Renato concorda comigo.

Quais seriam então as formas de avaliação, em português e literatura, nos vestibulares?

Mário Prata – Vestibular como um todo deveria ser para sacar se a pessoa tem a cabeça boa e vocação para determinada profissão ou não. Sou ignorante em educação. Mas acho que não deveria nem ter nota. O Hildebrando do Acre e o Sérgio Naya é que deveriam cair no vestibular. Textos sobre futebol, novelas, mídia, cinema brasileiro seriam bons temas, sem frescuras. Os clássicos são pesados. Meu filho tem 22 anos. Quando ele tinha 14, comprei-lhe as obras completas do Eça de Queirós. Ele achou um saco. Não dá para dar Dostoievski para gente que não tem interesse nisso. Tudo tem a hora certa. Eu também não li os clássicos quando deveria ter lido. Os vestibulares querem ser modernos incorporando novos autores como eu, o Veríssimo, o Millôr. Antes de os vestibulares nos colocarem, o que é sempre uma honra, seria bacana que fizessem perguntas mais simples sobre nossos textos ou que mostrassem a prova para o autor antes. Mais “larica” e menos anáfase!

Você já prestou vestibular?

Mário Prata – Prestei e passei em Economia na USP, em 1967 (largou no último ano). Trinta e três anos depois, o vestibular está igualzinho. Até os autores, com raras exceções, são os mesmos. Esse negócio de química, física e biologia é coisa do começo do século. O jovem de 1967 não tem nada a ver com o de 2000.

E as iniciativas do governo como o Provão e o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio, cujas notas valem pontos no vestibular), você acha que podem melhorar o nível do ensino e do vestibular?

Mário Prata – Acho que não adianta ficar fazendo Provão. A maioria dos jovens de hoje não lê e conseqüentemente não sabe escrever nada. É diferente da minha geração, que tinha acesso a um ensino público de qualidade. Essa qualidade tem de ser retomada no curso primário. Escrever é uma obrigação e ler deve ser um prazer. Não adianta querer sanar as coisas no vestibular. Fazer Provão é provar a incompetência do poder público. O problema do Enem é o fato de ser difícil convencer um aluno de 7 anos a tirar nota boa porque daqui a 10 anos ele vai ter de fazer vestibular.

Qual seria a melhor forma de ensinar o jovem que ler é um prazer?

Mário Prata – Tem outro problema: a categoria infanto-juvenil, que é um absurdo. Isso não existe. Ou é livro para criança ou para adulto, no máximo adolescente. Uma criança com 13 anos já é quase adulta. Uma menina de 14 anos está fazendo sexo. Os livros têm de falar dessa realidade, da vida. Esse tipo de livro é que tem de dar para a garotada. Importante: o cara que escreve deve saber escrever e ter o que escrever. Aí dá certo. Fica mais fácil os pais e as escolas colocarem na cabeça dos garotos, como fiz com meus filhos, que ler é uma viagem. Você só tem de entender o que o autor disse, não como disse, se é mesóclise ou a “PQP”.

Seus livros são lidos por jovens? Por quê?

Mário Prata – Meus livros são mais lidos pelo público jovem, de 15 a 25 anos. Acho que é porque meu texto é fácil, bem-humorado. É uma técnica de escrever para ser lido. Tenho de ser lido porque eu vivo disso. Tem gente que escreve para não ser lido. Não conheço nenhum médico que opere para que o paciente morra, engenheiro que faz ponte que cai. O ato de escrever é um ofício como qualquer outro.

Você tem 15 livros publicados e está escrevendo outro. Como se tornou escritor e sobre o que é seu novo livro?

Mário Prata – O tema do meu novo livro ainda não posso adiantar. Será lançado em outubro. Larguei Economia e meus colegas de faculdade estão todos no poder. Fazer aquele curso foi uma coisa meio metido a besta. Eu morava em frente ao jornal de Lins (interior paulista, onde Prata nasceu) e vivia lá. Comecei no jornalismo com 14 anos escrevendo coluna social. Escrevia tudo errado. Fui aprender na marra. Tudo que eu fiz até hoje, escrevendo, foi crônica – mesmo quando escrevi para teatro. Minha formação literária foi com os cronistas da época: Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Millôr, Estanislau Ponte Preta e Nelson Rodrigues. Lia todos eles – maravilhosos – nos jornais. Depois de mais velho é que fui buscar os livros, me interessei por eles e os descobri. Em Lins não tinha livraria. E não tem até hoje – apesar de a cidade ter uma universidade.

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