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Letra Feia Pode Eliminar Candidato

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Nas provas dissertativas dos vestibulares, segundo os coordenadores, quando a letra é ilegível, não há como os corretores darem uma nota, a não ser o zero. Mesmo assim, de acordo com eles, o vestibulando que não tem uma letra bonita não precisa se desesperar – a banca tentará entender o que o candidato quis dizer. “Se der para ler, tudo bem.

Faremos um esforço hercúleo para entender o que está escrito. Se um corretor não entende, passa para outro ou acaba circulando na banca. Só se ninguém entender acaba zerando”, disse Leandro Tessler, coordenador-executivo do vestibular da Unicamp, que assume também ter letra feia.

Apesar de raros, os casos de anulação acontecem. “Quando fui corretor pela primeira vez, em 1992, uma redação circulou entre todos os corretores para ver se alguém entendia. Quando começava a linha, a letra era até legível, mas ia gradativamente se transformando em um traço.

Aquela acabou zerando”, disse Tessler. Já na Fuvest, a vice-diretora-executiva, Maria Thereza Fraga Rocco, não se recorda de redações chegarem ao ponto de serem anuladas. “Em geral, os vestibulandos procuram fazer uma boa letra. A Fuvest não leva em consideração a qualidade da letra, mas deseja algo legível”, disse ela.

Nos vestibulares feitos pela Vunesp (Unifesp, Unesp e UFSCar, entre outros), vale a mesma orientação, segundo o diretor acadêmico, Fernando Dagnoni Prado. De acordo com ele, o esforço dos corretores pode fazer até com que eles procurem pistas nos rascunhos do candidato.

“Se o primeiro corretor não entender a letra, ele chama o coordenador da banca. Ainda assim, há o segundo corretor. Caso haja dois zeros, automaticamente vai para um terceiro corretor. Ou seja, para anular, pelo menos quatro pessoas têm de ser incapazes de entender a letra do candidato.”

Apesar de dizer que teoricamente a letra não tem impacto na nota, Prado afirma que “subliminarmente” pode influir na correção. “Caligrafia não é objeto de avaliação, mas, quando se pega um texto em que a leitura flui, há uma empatia maior do corretor.”

Tornando legível.

A solução encontrada por Humberto para tornar mais legíveis seus “hieróglifos” nos vestibulares é escrever mais devagar, recomendação principal dada pelos coordenadores dos processos seletivos. De acordo com Humberto, uma redação que ele levaria uma hora para fazer acaba demorando meia hora a mais. Outra solução tentada por ele, sem sucesso, foi a letra de forma.

“Ficou pior ainda”, disse. Caso o aluno prefira, os coordenadores afirmam não haver problemas em escrever com letra de forma. O vestibulando pode também testar sua caligrafia com amigos e professores, vendo se eles conseguem entender o que está escrito.

Velocidade.

De acordo com a professora de fonoaudiologia da Unesp, Simone Aparecida Capellini, a pressa é o principal motivo da disgrafia – como é chamado o problema da letra feia – em pessoas sem outros distúrbios como dificuldade de cálculo. “Há pessoas que escrevem rápido e por isso têm letra ruim, mas que, se tiverem tempo, não têm o problema.”

De acordo com ela, caso a pessoa, mesmo fazendo um texto com calma, não consiga fazer algo legível, deve procurar ajuda. Simone diz que a escrita depende da chamada coordenação motora fina, que envolve a apreensão do lápis (segurá-lo) e a pressão sobre o papel. Se a pessoa não desenvolve isso, é comum ter letra ruim. “Há o problema de exposição à escrita. Crianças que não são estimuladas a escrever não desenvolvem a motricidade fina.”

Abreviaturas.

Escrever com calma evita outro problema comum nas provas dissertativas: o uso da linguagem de internet, com estrangeirismos e abreviaturas (“tks”, para dizer obrigado; “vc” etc.). Essa é uma das preocupações da candidata Grace França Lo Man Hung, 17. Acostumada a utilizar mecanismos de comunicação pela internet, como ICQ e Messenger, ela tem de se policiar durante as provas. “No computador, a gente escreve muito abreviado e troca algumas letras. Na prova, tem de tomar cuidado”, disse ela.

Culpa de letra feia também é do professor, diz pesquisador.

Parte da culpa pela letra ruim dos candidatos nos vestibulares é dos professores, que relevam a caligrafia dos estudantes. A opinião é do professor de literatura da Unesp, Rogério Chociay. Após ser corretor durante anos em São Paulo e no Paraná, ele fez uma pesquisa com as redações de vestibulares da Unesp. “Letra ruim é um problema muito comum.

Esse é um dos motivos de atraso nas correções.” Para ele, uma das causas é a tolerância dos professores. “Tem professor que diz que letra é marca de personalidade, mas há coisas que são essenciais. O “m” e o “n” não podem ter pontas para não confundir com o ‘u’.” Para ele, quando se torna ilegível, a escrita perde sua função.

“A função da escrita é comunicar. Se alguém fala com algo na boca, a outra não entende. Com a escrita é o mesmo. A banca é o receptor, mas, se não tem como entender, deixa de ser comunicação.”

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