MANTENHA-SE EM FORMA, ESTEJA EM PAZ CONSIGO MESMO E CONSIGA SER FELIZ!
Aos olhos do(a) leitor(a) desatento(a), essas proposições podem parecer o título de algum livro de auto-ajuda. É comum, nesse tipo de literatura, promessas de realizações de sonhos, mudanças de vida, enfim, o livro se assemelha a uma fada que, com uma varinha de condão, provoca uma transformação maravilhosa, fantástica. Analisando mais friamente, porém, devemos estar cientes de que a mudança pode até acontecer, no entanto é preciso trabalhar esses conceitos dentro de nós mesmos. Isso requer muito esforço, perseverança e humildade para aceitarmos nossas imperfeições.
Aquele(a) estudante que procurou nesta coluna alguma nova informação sobre a Língua Portuguesa já está impaciente com esse papo filosófico. Sim, estamos aqui para discutir nossa língua-mãe, mas é também saudável mencionar alguns preceitos que melhoram nossa vida. Por isso, peço sua paciência para mais alguns parágrafos de filosofia. Acredito que esta pode ser útil a quem abrir o coração e assimilar as mensagens.
Mantenha-se em forma! Parece que todas as pessoas se espelham apenas em atletas musculosos(as). Os excessivamente obesos que se cuidem, é claro. Entretanto, muitas pessoas só serão felizes quando atingirem o corpo escultural. Que infelicidade! Toda a vida perdida entre remédios e tresloucados exercícios de musculação.
Esteja em paz consigo mesmo(a)! Para atingir a paz espiritual, o princípio básico é amarmos a nós mesmos. Para isso, necessitamos desenvolver um autoconhecimento. É bom lembrar que gostar de si mesmo não é ser arrogante e vaidoso. Estes adjetivos revelam uma pessoa insegura que prefere viver na ilusão.
Consiga ser feliz! Esse é o objetivo de qualquer pessoa. Passamos a vida toda correndo em busca da felicidade. Como ser feliz? Como conseguir isso? Por ser um assunto tão importante, é melhor recorrer à ajuda de dois grandes pensadores brasileiros: primeiro, um filósofo catarinense, Huberto Rohden; segundo, um de nossos maiores poetas, o gaúcho Mário Quintana.
Atenção à lição de Rohden, em seu livro “Por um ideal –Memórias Autobiográficas: “O homem pode ser feliz no meio do sofrimento – como também pode ser infeliz no meio do gozo. Sofrimento e gozo são coisas que nos acontecem – felicidade ou infelicidade é algo que nós produzimos. Sendo que o sofrimento está para além do nosso controle, não o podemos evitar – mas, como a felicidade é produto nosso, podemos possuí-la, independentemente de gozo ou sofrimento.”
O poeta Mário Quintana, em seu poema “Felicidade Realista”, dá uma fórmula da felicidade bem parecida. Reflita sobre alguns trechos:
(…) Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável.
Fazer exercícios sem almejar passarelas,
trabalhar sem almejar o estrelato,
amar sem almejar o eterno.
(…)
Faça o que for necessário para ser feliz.
Mas não se esqueça de que a felicidade é um sentimento simples,
você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade.
Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta
e provoca inquietude no nosso coração.
Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade…
Assim, amiga e amigo estudante, é bom refletir sobre a visão desses grandes homens a respeito da felicidade. Estudar a gramática da língua portuguesa também pode gerar uma felicidade interior. Depende de como encaramos isso. Eu, pessoalmente, acho que a educação é um fator de libertação do indivíduo. Então, aprender pode dar prazer se contribuir para nos sentirmos livres das amarras da ignorância. Cada novo conceito assimilado nos faz mais ricos espiritualmente. Por exemplo, a partir do momento em que dominamos uma língua, conseguimos maior poder de expressá-la e, por conseqüência, melhor comunicação e mais liberdade.
Atualmente, quem enfrenta a concorrência no mercado de trabalho, sabe avaliar a importância de falar e escrever bem. Por isso, dedique ao estudo da Língua Portuguesa.
Agora vamos analisar o título deste artigo com um olhar gramatical:
MANTENHA-se em forma, ESTEJA em paz consigo mesmo(a) e CONSIGA ser feliz!
Com certeza, não lhe passou despercebido que os verbos estão escritos com letras maiúsculas. Pois são eles que nos interessam. É bom recordar que os verbos podem ser flexionados em número (singular e plural), pessoa (primeira, segunda e terceira), tempo (presente, pretérito e futuro), modo (indicativo, subjuntivo e imperativo) e, para alguns gramáticos, também a flexão de voz (ativa, passiva e reflexiva).
Em primeiro lugar, vamos classificá-los quanto ao modo. Os modos indicam as diferentes maneiras de um fato se realizar. O indicativo exprime um fato certo de sua realização. Já o subjuntivo exprime um fato possível, hipotético ou duvidoso. O modo imperativo (afirmativo e negativo) é aquele que expressa ordem, conselho, pedido, convite etc. Dessas definições concluímos que os verbos do período acima (MANTENHA, ESTEJA e CONSIGA) estão no modo imperativo afirmativo, pois expressam um conselho ou algo parecido. Concordam?
Pois bem, agora vamos conjugar cada um desses verbos no Imperativo Afirmativo e Negativo. Você já deve ter estudado que o tempo primitivo Presente do Indicativo dá origem ao Presente do Subjuntivo e aos Imperativos. Vamos recordar!
Presente Indicat. Presente Subjunt. Imperativo Afirmat. Imperativo Negat.
Mantenho Mantenha —- —
Manténs Mantenhas Mantém tu Não mantenhas tu
Mantém Mantenha Mantenha você Não mantenha você
Mantemos Mantenhamos Mantenhamos nós Não mantenhamos nós
Mantendes Mantenhais Mantende vós Não mantenhais vós
Mantêm Mantenham Mantenham vocês Não mantenham vocês
Estou Esteja — —
Estás Estejas Está tu Não estejas tu
Está Esteja Esteja você Não esteja você
Estamos Estejamos Estejamos nós Não estejamos nós
Estais Estejais Estai vós Não estejais vós
Estão Estejam Estejam voces Não estejam vocês
Consigo Consiga — —
Consegues Consigas Consegue tu Não consigas tu
Consegue Consiga Consiga você Não consiga você
Conseguimos Consigamos Consigamos nós Não consigamos nós
Conseguis Consigais Consegui vós Não consigais vós
Conseguem Consigam Consigam vocês Não consigam vocês
Observe que as flexões do Imperativo Afirmativo estão todas destacadas. Assim como as suas origens. Vamos enumerar as regras para a formação do Imperativo Afirmativo:
1) A segunda pessoa do singular (tu) e a segunda pessoa do plural (vós) do Imperativo Afirmativo têm origem, respectivamente, na segunda pessoa do singular e da segunda pessoa do plural do Presente do Indicativo, mas atenção: sem o “s” final (tu manténs => mantém tu; tu estás => está tu; tu consegues => consegue tu); (vós mantendes => mantende vós; vós estais => estai vós; vós conseguis => consegui vós).
2) A terceira pessoa do singular (você), a primeira pessoa do plural (nós) e a terceira pessoa do plural (vocês) do Imperativo Afirmativo vêm, respectivamente, da terceira pessoa do singular (ele), da primeira pessoa do plural (nós) e da terceira pessoa do plural (eles) do Presente do Subjuntivo, sem tirar nada (que ele mantenha => mantenha você; que ele esteja => esteja você; que ele consiga => consiga você); (que nós mantenhamos => mantenhamos nós; que nós estejamos => estejamos nós; que nós consigamos => consigamos nós); (que eles mantenham => mantenham vocês; que eles estejam => estejam vocês; que eles consigam => consigam vocês).
Confira: a formação do Imperativo Negativo segue fielmente a formação do Presente do Subjuntivo.
Cuidado para uma questão que está sempre freqüente nos concursos públicos e vestibulares: a mistura das pessoas do discurso (principalmente tu e você). Se os verbos estão na segunda pessoa do singular (tu), outros verbos e os pronomes também devem estar na mesma pessoa (tua, teu, te, ti, contigo). Uma vez os verbos na terceira pessoa do Imperativo (você), devemos usar todos os verbos e os pronomes da terceira pessoa (seu, sua, se, si, consigo, com você). Acompanhem os exemplos a seguir.
1 – Vamos passar o título deste artigo para a segunda pessoa do singular (tu):
MANTÉM-TE em forma, ESTÁ em paz CONTIGO mesmo(a) e CONSEGUE ser feliz!
2 – Há um anúncio da Caixa Econômica Federal que contém uma salada de tu com você, uma construção inadequada para a língua culta:
VEM pra Caixa VOCÊ também!
O Imperativo “vem tu” é da segunda pessoa do singular, originado da segunda pessoa do singular do Presente do Indicativo “tu vens”. Se o anunciante nos está tratando por “você”, então deveria ser usada a terceira pessoa do Imperativo Afirmativo “venha você”, originária da terceira pessoa do Presente do Subjuntivo “que você venha”.
Assim, para ficar de acordo com a norma culta, deveriam dizer:
VENHA pra Caixa VOCÊ também! ou VEM pra Caixa TU também!
3 – ASSINA o TEU depoimento, para que (TU) SEJAS responsável por TI mesmo! ou
ASSINE o SEU depoimento, para que (VOCÊ) SEJA responsável por SI mesmo!
4 – Em muitas entrevistas com jogadores de futebol, é comum a impropriedade:
DAREI tudo de SI para vencermos.
Cuidado, não dê o que não é seu! Diga corretamente:
DAREI tudo de MIM, TU DARÁS tudo de TI, VOCÊS DARÃO tudo de VOCÊS, ELES DARÃO tudo dELES… e assim por diante.
É comum, nos concursos, haver uma miscelânea de pessoas gramaticais, induzindo o candidato ao erro. Muita atenção, pessoal!
Um abraço! Seja sempre uma pessoa feliz! Até a próxima aula!
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