Por dentro do Capitalismo
O capitalismo, ao longo do processo histórico, apresentou três
estágios, que seriam o capitalismo comercial, industrial e financeiro.
O capitalismo comercial estruturava-se na circulação de mercadorias.
Entre os Séculos XVI e XVIII, a divisão internacional do trabalho
apresentava-se polarizada pelas potências comerciais européias, e a
periferia preenchida pela Ásia, África e América, formando uma rede de
fluxos mundial.
O capitalismo industrial estruturava-se na produção
de mercadorias. No Século XIX, a Inglaterra (nação pioneira neste
processo) e a Europa Ocidental foram abarcadas pelo processo de
Industrialização e uma nova divisão internacional do trabalho foi
gerada.
O capitalismo financeiro estrutura-se nos mercados de
capitais. No Século XX, a união entre o capital bancário e a indústria,
particularmente após a 2ª Guerra Mundial, levou a formação de uma nova
divisão internacional do trabalho.
Magnoli (2002), apoiado em
Arrighi (1996), defende o conceito de ciclos sistêmicos, como se pode
observar na passagem:
“Os quatro ciclos arrighianos são denominados
a partir dos componentes centrais do sistema: Gênova, Holanda,
Grã-Bretanha e EUA. O ciclo genovês estende-se entre o Século XV e o
início do Século XVII; o ciclo holandês, entre o fim do Século XVI e o
Século XVIII; o ciclo britânico, entre o fim do Século XVIII e o início
do Século XX; o ciclo americano, desde o final do Século XIX” (p. 57).
Neste trabalho, o escopo nos restringe a análise do denominado ciclo
americano. O grande evento que possibilitou a consolidação do ciclo
americano trata-se da Conferência de Bretton Woods. A transição do
padrão ouro para o padrão dólar foi um evento relevante na formação
efetiva da hegemon dos EUA. De acordo com Magnoli (2002):
“Entre
1850 e 1914, o fluxo de capitais britânicos para os Estados Unidos – em
investimentos e empréstimos – somou 3 bilhões de dólares. Neste
período, os EUA remeteram à Grã-Bretanha, como pagamento de juros e
dividendos, cerca de 5 bilhões de dólares. Contudo, durante a Primeira
Guerra Mundial, a demanda britânica por armamentos, matérias-primas e
bens-de-capital foi suprida, parcialmente, pelos Estados Unidos. Como
resultado, no final do conflito, a república americana tinha se tornado
credora da Grã-Bretanha. Além disso, durante a guerra, os investimentos
americanos tinham tomado o lugar dos britânicos na América Latina e em
parte da Ásia” (p. 60).
O período de 1901-1950, de acordo com
Hobsbawn, conhecido como “Era da Catástrofe” foi ajustado a partir da
Conferência de Bretton Woods. De acordo com Mattos (1998):
“As
negociações de Bretton Woods representam o triunfo de coordenação e
planejamento sobre os ideais do Laissez faire, que tinham sido
hegemônicos até o período da Grande Depressão do entre-guerras” (p. 45).
Após a 2ª Guerra Mundial, os EUA detinham 70% das reservas
internacionais de ouro, o que legitimou as decisões tomadas em Bretton
Woods.
A Conferência de Bretton Woods (1944) determinou que o dólar
a partir de então se tornava a moeda-referência para as reservas
financeiras dos países e nas trocas comerciais. Destaca-se que até a
URSS utilizou o dólar como moeda de reserva das suas riquezas.
A
Conferência consolidou a Hegemon dos Estados Unidos, dentro da
perspectiva da Teoria da Estabilidade Hegemônica do Capitalismo. A
Hegemon apresentava-se relacionada aos aspectos industrial, militar e
financeiro.
Bretton Woods teve o representante da Inglaterra (Sir.
Keynes) e o representante dos EUA (Dexter White) formulando hipóteses
para a continuidade e crescimento das políticas econômicas
internacionais. De acordo com Mattos (1998):
“O principal ponto a
unir a concepções de Keynes e White era, fundamentalmente o
reconhecimento da falência de forças de livre mercado em sustentar o
crescimento econômico e, portanto, a necessidade de criação de uma nova
ordem financeira internacional que pudesse disciplinar os movimentos de
capitais, a paridade entre moedas e os fluxos internacionais de bens (e
serviços). Os mecanismos criados deveriam evitar os dois principais
efeitos disruptivos da ordem econômica mundial vigente no
entre-guerras, a saber, a extrema mobilidade de capitais entre países e
a adoção de recorrentes desvalorizações cambiais competitivas entre os
países, como recurso desesperado de defesa contra a depressão econômica
que se abatera sobre a maioria deles nas décadas de 20 e 30” (p. 46).
No entanto, os economistas divergiam em alguns aspectos. White propôs a
criação de um Fundo de Estabilização, que deveria oferecer recursos
para os países, garantindo a reconstrução. Keynes defendeu a criação do
Clearing Union, um Banco Central internacional, que seria o responsável
pela emissão de moedas que serviriam como referência internacional. O
economista inglês tinha temor que a deflação dos anos 20 e 30 voltasse
a atuar. Destaca-se também que Keynes buscava desconcentrar a hegemonia
dos EUA.
Mattos (1998) analisando a função das organizações
supranacionais sinaliza que: “o problema do FMI não é o seu poder
excessivo, mas sua deplorável submissão ao poder e aos interesses dos
EUA” (p. 48).
As principais conseqüências de Bretton Woods foram a
utilização do padrão dólar (US$ 35 por onça de ouro), a paridade fixa
entre moedas (- 10% < X < 10%), atingindo este patamar máximo,
para mais ou para menos, apenas com o consentimento do FMI.
Bretton
Woods oficializa o duplo papel do dólar no cenário internacional, a
atuação como reserva monetária e a função de moeda de crédito.
Outro mecanismo do pós-guerra foi o Plano Marshal (1948-52). De acordo com Mattos (1998):
“A construção promovida pelos recursos transferidos pelo Plano Marshall
baseou-se fundamentalmente na recuperação dos mercados internos dos
países, embora tenha sido bastante considerável a expansão do comércio
internacional neste período” (p. 51).
Após a 2ª Guerra Mundial,
nota-se a atuação das organizações supra-nacionais recém-criadas. Estas
possuíam o papel de promover o crescimento econômico. E conseguiram
atingir tal êxito.
O período de 1949-1973 ficou conhecido como os
“anos dourados” do capitalismo, um período de exceção da História do
Capitalismo, pois se visualizou todos os benefícios que este modelo
pode apresentar em detrimento da suavização de seus problemas
estruturais.
O ciclo virtuoso dos anos dourados se estruturou a
partir da sinergia entre os aumentos de produtividade, dos salários
reais e da geração de empregos. Mattos (1998) define os anos dourados
como:
“a associação de fatores técnico-produtivos (oligopolização
dos mercados, ganhos de escala, investimentos frente à demanda, preços
rígidos à baixa, rentabilidade e produtividade crescente nos setores
líderes, vendas em ascensão) com fatores políticos (salários reais
crescentes, definidos no âmbito das negociações coletivas entre capital
e trabalho), fatores sociais (Estado transferindo renda para os
excluídos do mercado de trabalho organizado e investido na área social)
e institucionais (moeda-crédito internacional estável e abundante)
gerou um ciclo virtuoso de crescimento durante mais de vinte anos, com
maior intensidade ainda nos países que estavam fazendo o ‘cathing up’”
(p. 54).
No final dos anos 60, as medidas de Bretton Woods perdiam
valor paulatinamente. Este período de agitação recebeu o nome de
“Dilema de Triffin”, que de acordo com Mattos (1998):
“A expansão
da liquidez internacional estaria limitada pela perda de confiança dos
agentes econômicos na conversibilidade do dólar em ouro, dada a
crescente desproporção entre as reservas em dólar dos paises e os
estoques americanos em ouro” (p. 57).
As duas décadas após Bretton
Woods foram marcadas pelo destacado desenvolvimento industrial e a
formação de uma sociedade de consumo de massa nos países europeus e no
Japão.
Em agosto de 1971, o presidente dos EUA Richard Nixon
finaliza a conversibilidade do dólar em ouro. Destarte, o dólar
desaparece do cenário econômico como agente do sistema monetário
internacional. E esta medida de Nixon demonstrou o poder do dólar, pois
este se manteve como moeda-referência internacional.
A concorrência com a produção japonesa e alemã vem apresentando entraves na economia dos EUA. Para Mattos (1998):
“O déficit da balança comercial dos EUA é uma demonstração de desgaste
da economia americana e mais um impulsionador da perda de credibilidade
da moeda americana como referência de valor das reservas de diversos
países” (p. 59).
O desmantelamento do modelo fordista mina a continuidade dos anos dourados. Mattos (1998) diz que:
“Muitos acordos coletivos deixaram de ser renovados e os salários,
diante da nova realidade, deixaram de ser vistos como fonte de demanda
global e passaram a ser encarado como custo pelas empresas. Esta
reversão da expectativa e as mudanças de mentalidade, geradas pela nova
conjuntura, representaram a falência da perspectiva ‘keynesiana’ que
predominou durante os ‘anos dourados’” (p. 60).
Há a importância em diferenciar os capitalistas dos Estados Nacionais. De acordo com Harvey (2005):
“Em primeiro lugar, as motivações e os interesses dos respectivos
agentes divergem. O capitalista que dispõe de capital financeiro deseja
aplicá-lo onde quer que possa haver lucro, e tipicamente busca acumular
mais capital.
Os políticos e homens de Estado buscam tipicamente
resultados que mantenham o aumentem o poder de seus próprios Estados
diante de outros Estados.
O capitalista procura vantagens individuais
(embora de modo geral sujeito a restrições legais) só é responsável
perante seu círculo social imediato, ao passo em que o homem de Estado
procura vantagens coletivas, vendo-se restringido pela situação
política e militar de seu Estado, sendo em algum sentido responsável
perante uma comunidade de cidadãos ou, o que é mais freqüente, perante
um grupo da elite, uma classe, uma estrutura de parentesco ou algum
outro grupo social.
O capitalista opera no espaço e tempo contínuos,
enquanto o político opera num espaço territorializado e, ao menos nas
Democracias, no âmbito de uma temporalidade ditada por um ciclo
eleitoral.
Por outro lado, as empresas capitalistas vêm e vão, mudam de
localização, se fundem entre si ou encerram as operações, mas os
Estados são entidades de vida longa, não podem migrar e, exceto em
circunstâncias excepcionais de conquista geográfica, estão confinados a
fronteiras territoriais fixas” (p. 32).
No entanto, os capitalistas
devem acompanhar as decisões tomadas pelos Estados. A estrutura
monetária e fiscal, dentre outras medidas que caracterizam o poder do
Estado, formam o cenário de acumulação de capital.
Arrighi (1996) apud Harvey (2005) diferencia também o conceitos de liderança e supremacia, sendo:
“A supremacia de um grupo ou, no caso, de uma nação-Estado pode…
manifestar-se de duas maneiras: como ‘dominação’ e como ‘liderança
moral e intelectual’.
Um grupo social domina grupos antagônicos, que
ele tende a ‘liquidar’ ou a subjugar, talvez mesmo pela força armada;
ele lidera grupos afins ou aliados (…) um Estado dominante se torna o
‘modelo’ a ser emulado por outros Estados e os atrai assim para o seu
próprio curso de desenvolvimento…
Isso pode aumentar o prestígio, e
por conseguinte, o poder do Estado dominante…, mas na medida em que
obtém algum grau de sucesso, essa emulação tende a contrabalançar e,
portanto, antes a reduzir do que a aumentar o poder do hegemon, ao
trazer à existência competidores do hegemon e reduzir o que há nele de
‘especial’ (…) o fato de um Estado dominante conduzir o sistema de
Estados numa direção desejada e, ao fazê-lo, ser majoritariamente
percebido como voltado para a promoção de um interesse geral. A
liderança nesse sentido aumenta o poder do Estado dominante” (p. 39).
Nos últimos 50 anos, os EUA têm atuado, principalmente, a partir de
medidas coercitivas tanto interna quanto externamente, no que diz
respeito as suas estratégias de dominação. Pode-se destacar o
macartismo e mais recentemente, a aprovação da “Lei Patriota”, na
escala nacional. Na escala global, o apoio a golpes militares, e mais
recentemente, a política de ataque preventivo, em alta no governo Bush,
tem atuado em países com regimes vistos como de exceção, como o sistema
de Saddam Hussein no Iraque.
Immanuel Wallerstein no seu artigo:
“Mundialização ou a Era de Transição? Uma visão de longo prazo da
trajetória do sistema-mundo”, explica as fases A (1945-1973) e B (1973
até os dias de Hoje) do ciclo do Kondratieff.
Wallerstein analisa a
fase A do ciclo do Kondratieff como sendo correspondente ao que os
autores da escola francesa denominam de “os 30 anos gloriosos”,
igualando com a fase de apogeu e hegemonia mundial dos Estados Unidos
após o firmamento da nova ordem mundial pós-1945, que ocasionou da boa
situação dos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial (1939-45),
pois este país foi a única potência industrial que terminou a guerra de
maneira praticamente intacta, ao analisar potencial e território.
Os Estados Unidos, através da formação de instituições e acordos
internacionais, resolveram um de seus principais problemas para a
consolidação de sua hegemonia: a concretização da ordem mundial estável.
Outra dificuldade a ser solucionada diz respeito à formação de uma
demanda que assegurasse o escoamento da crescente produção dos Estados
Unidos. A deliberação para esta dificuldade foi conquistada com o plano
Marshall (1947) para a Europa Ocidental, assim como uma ajuda
equivalente para o Japão (Plano Colombo) após a Guerra da Coréia
(1950-53).
No bojo da Guerra Fria (1945-91), os Estados Unidos se
aproveitam para aproximar seus vínculos econômicos a partir de alianças
militares.
Mesmo com o expressivo número de países que, de nenhuma
forma, foram beneficiados com as políticas estadunidenses, como os
países de Terceiro Mundo (que se reúnem na Conferência de Bandung –
1955), os Estados Unidos, de maneira geral, não tiveram grandes
entraves para a concretização de sua hegemonia nessa fase A.
Na fase
B, Wallerstein começa sinalizando um relevante evento que foi o aumento
do preço do petróleo pela Organização dos Países Exportadores do
Petróleo (Opep, criada em 1960), onde os principais países exportadores
de petróleo formaram um cartel, aumentando, de forma abrupta, o preço
do petróleo. Este evento poderia ser analisado como de grande efeito
para que países do Terceiro Mundo pudessem fazer frente aos países
desenvolvidos, entretanto, considerando que tal ação só ocorreu após a
aprovação de dois grandes aliados dos Estados Unidos no Oriente Médio:
Arábia Saudita e Irã. Pode-se analisar este evento como positivo para
os países desenvolvidos.
Após o aumento do preço do barril de
petróleo, tem-se como efeito cascata que a elevação dos preços de quase
todos os produtos, e ainda, resultou na diminuição da produção, se
destacando como um fato positivo para o entrave causado pela
superprodução.
Os países que necessitavam exportar matéria-prima para a
conquista de renda enfrentaram severos obstáculos econômicos,
sobrecarregados pelo encarecimento das importações. O elevado preço do
barril do petróleo favoreceu os países produtores, e também os
conglomerados petrolíferos.
A partir do superávit de capital, os países
produtores de petróleo ampliaram suas despesas, principalmente com a
importação de produtos vindos dos países desenvolvidos. E ainda, parte
deste capital foi depositado em bancos, com destaque para os
estadunidenses e alemães, que passaram a dispor de capital excedente,
oprimindo os países que estavam sofrendo com a crise para que estes
contraíssem capital em elevadas cifras, com juros.
Com isso, o Japão
e a Europa começam a se destacar globalmente, diminuindo a hegemonia
dos Estados Unidos, que procurou, através de uma série de medidas
manter sua hegemonia em patamares sublimes, porém, não conseguiu grande
eficácia.
Nos anos 80, se estabelece um estágio de modificações no
cenário global. Destacam-se quatro fatores principais. Em primeiro
lugar, o desponte da crise da dívida externa em países de diversas
partes do planeta.
Em segundo lugar, a rápida ascensão do Japão, dos
tigres asiáticos, do sudeste asiático e da China continental. Em
terceiro lugar, a política estadunidense do “keynesianismo militar” que
finalizou com a recessão nos Estados Unidos devido a grandes
empréstimos tomados, principalmente do Japão. Em quarto lugar, o
estouro de empréstimos contraídos por grandes empresas com o intuito de
conquistar os lucros do capital especulativo de curto prazo em oposição
aos investimentos produtivos. Sem se referir ao extremo oriente, a
economia global enfrentava um colapso.
Sob esta perspectiva, e mesmo
com diversas medidas, a União Soviética (que surge em 1922) chegou ao
fim (em 1991). O “boom” do endividamento mundial acarretou em uma
crise, nos anos 90 no mercado imobiliário japonês, diminuindo em larga
escala o valor dos títulos.
Com a queda da União soviética (1991),
os Estados Unidos perpassam um grande infortúnio com a invasão do Kwait
(1991) pelo Iraque. Os Estados Unidos que enfrentavam problemas (tanto
financeiro, como militar) passam pelo crivo da sociedade civil
organizada após a sua intervenção.
A partir da criação do euro
(2000), a Europa demonstra que caminha no sentido da sua unificação e
para desarranjar os laços que a deixavam bem próxima aos Estados Unidos.
No
bojo destes eventos ocorre a chamada crise asiática, que foi agravada
com a desastrosa atuação do FMI (criado em 1944), desencadeando na
propagação da deflação no Extremo Oriente e na zona de influência,
seguido pela Rússia e pelo Brasil. Concluindo, portanto a análise da
fase B dos ciclos de Kondratieff por Wallerstein.
A globalização
financeira limita as decisões de política econômica imbuídas na escala
nacional para que ocorra a geração de empregos e a segurança no
trabalho.
A globalização financeira começa a se desenvolver no
espaço deixado pela crise da sociedade industrial. Para Mattos (1998):
“a forma D-D’ adquire peso cada vez mais importante, suplantando a
importância clássica da forma D-M-D’ (Marx, 1968), pela qual a
valorização do capital implicava o emprego de equipamentos e bens de
capital e, portanto, o emprego de mão-de-obra para a extração da mais
valia” (p. 64).
A globalização financeira acarreta na perda de
arrecadação pelos Estados, diminuindo o seu poder de atuação. Neste
sentido, as políticas de geração de empregos se deslocam das
atribuições do Estado para a participação do capital privado, que
muitas vezes opta pela realização de investimentos financeiros.
Pode-se analisar o neoliberalismo como ausência de projeto para a construção de uma nova ordem mundial. Para Vizentini (1992):
“O próprio neoliberalismo levanta hoje dúvidas, pois para um número
crescente de estudiosos apresenta-se muito mais como a falta de um
projeto novo. Historicamente, a ‘volta as raízes’ foi sempre uma
decorrência da ausência de perspectivas para o futuro.
Em nenhuma outra
época deste século os dirigentes conservadores atuaram tão intensamente
através de políticas de curto prazo como agora, ainda que camuflando as
táticas conjunturais como estratégias de longo alcance” (p. 224).
Uma
das estratégias realizadas tem sido a reunião (e não ampliação) dos
mercados, na tentativa de compensar a diminuição do consumo em cada
país. A formação de megablocos econômicos sinaliza para tal assertiva.
A
situação econômica dos Estados Unidos apresenta-se entrelaçada com as
indústrias do setor bélico. Neste sentido, Vizentini (1992) diz que:
“Ao desaparecer o inimigo externo (o socialismo), os antagonismos
sociais oriundos das profundas e crescentes desigualdades, e que antes
eram abafadas pelas tensões internacionais, reaparecem e são
reinteriorizados com características fortemente irracionais. É o fim do
consenso doméstico. A solução que se esboça é manter vivos os
mecanismos de repressão interna típicos da Guerra Fria, redirecionando
simultaneamente a ação exterior contra novos inimigos ‘reais ou
forjados’” (p. 228).
Com a derrocada da hegemon dos EUA, um grupo de países começa a se destacar de forma incisiva. Para Magnoli (2002):
“As potências econômicas passaram a coordenar suas políticas de câmbio
por meio de reuniões anuais do Grupo dos 5 – Estados Unidos, Japão,
Alemanha, França e Grã-Betanha – que, depois, agregou a Itália e o
Canadá, tornando-se o atual G-7. Esta coordenação da política cambial
jamais evitou instabilidades e oscilações mas, no conjunto, o governo
das maiores economias revelaram-se capazes de evitar o precipício de
guerras comerciais e retaliações protecionistas” (p. 56).
Para
finalizar, conclui-se que na atual (des) ordem econômica mundial
inexistem mecanismos que possibilitem o crescimento econômico
sustentado, a melhoria na distribuição de renda e o desenvolvimento dos
indicadores sociais. Além disso, a hegemonia do sistema capitalista
está em aberto, sendo alvo de disputa pelas principais potências do
planeta.
Referências Bibliográficas
HARVEY, D. O Novo Imperialismo. Rio de Janeiro, 2005. pp.: 31-76.
MAGNOLI, D. Relações Internacionais: Teoria e História. São Paulo: Editora Saraiva, 2002. pp.: 50-63.
MATTOS,
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São Paulo: Cultura Vozes, jan/fev. 1998. pp.: 43-70.
RAMONET, I. O
Pensamento Único e os Regimes Globalitários. In: FIORI, J. L. (et
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pp.: 54-75.
VIZENTINI, P. G. F., RIBEIRO, L. D. T. A transição para uma Nova Ordem Internacional. pp.: 223-237.
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