DENGUE
O dengue é uma doença infecciosa causada por um arbovírus (existem quatro tipos diferentes de vírus do dengue: 1, 2, 3 e 4), que ocorre principalmente em áreas tropicais e subtropicais do mundo, inclusive no Brasil. As epidemias geralmente ocorrem no verão, durante ou imediatemente após períodos chuvosos.
Transmissão
No Brasil, circulam os tipos 1, 2 e 3. O vírus 3 está presente desde dezembro de 2000 (foi isolado em janeiro de 2001, no Rio). O dengue pode ser transmitido por duas espécies de mosquitos (Aedes aegypti e Aedes albopictus), que picam durante o dia.
Os transmissores da dengue, principalmente o Aedes aegypti, proliferam-se dentro ou nas proximidades de habitações em qualquer coleção de água limpa. As bromélias, que acumulam água na parte central (aquário), também podem servir como criadouros. A transmissão do dengue é mais comum em cidades, pode também ocorrer em áreas rurais, mas é incomum em locais com altitudes superiores a 1200 metros.
Medidas de proteção individual
Ainda não existem vacinas disponíveis contra o dengue, embora as pesquisas estejam em fase avançada. Uma pessoa não transmite dengue diretamente para outra, para que isto ocorra, é necessário que o mosquito pique uma pessoa infectada e, após o vírus ter se multiplicado, pique uma pessoa que ainda não teve a doença.
Manifestações
A infecção causada por qualquer um dos quatro tipos (1, 2, 3 e 4) do vírus do dengue produz as mesmas manifestações. A determinação do tipo do vírus do dengue que causou a infecção é irrelevante para o tratamento da pessoa doente. O dengue é uma doença que, na grande maioria dos casos (mais de 95%), causa desconforto e transtornos, mas não coloca em risco a vida das pessoas. As manifestações iniciais são febre alta, dor de cabeça, muita dor no corpo e, às vezes, vômitos. É frequente que, 3 a 4 dias após o início da febre, ocorram manchas vermelhas na pele, parecidas com as do sarampo ou rubéola, e prurido (“coceira”). Também é comum que ocorram pequenos sangramentos (nariz, gengivas).
A maioria das pessoas, após quatro ou cinco dias, começa a melhorar e recupera-se por completo, gradativamente, em cerca de dez dias. Em alguns casos (a minoria), nos primeiros três dias depois que a febre começa a ceder, pode ocorrer diminuição acentuada da pressão sangüínea. Esta queda da pressão caracteriza a forma mais grave da doença, chamada de dengue “hemorrágico”. Este nome pode fazer com que se pense que sempre ocorrem sangramentos, o que não é verdadeiro. A gravidade está relacionada, principalmente, à diminuição da pressão sanguínea, que deve ser tratada rapidamente, uma vez que pode levar ao óbito. O dengue grave pode acontecer mesmo em quem tem a doença pela primeira vez.
O doente se recupera, geralmente sem nenhum tipo de problema. Além disso, fica imunizado contra o tipo de vírus (1, 2, 3 ou 4) que causou a doença. No entanto, pode adoecer novamente com os outros tipos de vírus de dengue. Em outras palavras, se a infecção foi com o tipo 2, a pessoa pode ter novamente o dengue causado pelos vírus dos tipos 1, 3 ou 4. Em uma segunda infecção, o risco de forma grave é maior, mas não é obrigatório que aconteça.
As manifestações iniciais do dengue são as mesmas de diversas doenças (febre amarela, malária, leptospirose). Também não servem para indicar se o dengue vai ser mais grave. Por isto é importante sempre procurar rápido um Serviço de Saúde, para uma avaliação médica. A menengite meningocócica pode ser muito parecida com o dengue grave, mas a pessoa piora muito mais rápido (logo no primeiro ou segundo dia da doença). O dengue pode se tornar mais grave apenas quando a pessoa começa a melhorar, e o período mais perigoso vai até três dias depois que a febre desaparece.
O dengue não tem tratamento específico. Quando não há dúvida que a pessoa tem dengue, na maioria das vezes o médico pode recomendar que o tratamento seja feito em casa, basicamente com antitérmicos e com uma solução para reidratação oral (disponível nas Unidades de Saúde), que deve ser iniciada o mais rápido possível. Alguns cuidados devem ser observados:
Não tomar remédios sem recomendação do médico. Todos os medicamentos podem ter efeitos colaterais e alguns podem até agravar a doença.
Alguns medicamentos para dor e febre podem aumentar o risco de sangramento, como os que contém ácido acetil-salicílico (AAS, Aspirina, Melhoral e outros). Outros podem ocasionar erupções na pele, semelhantes às causadas pelo dengue, como os que contém dipirona (Novalgina, Dipirona, Dorflex e outros). Os antiinflamatórios (Voltaren, Profenid etc) também não devem ser utilizados como antitérmicos pelo risco de efeitos colaterais, como hemorragia digestiva e reações alérgicas.
O paracetamol (Dórico, Tylenol etc), mais utilizado para tratar a dor e a febre na dengue, deve ser tomado rigorosamente nas doses e no intervalo prescritos pelo médico, uma vez que em doses muito altas pode causar lesão hepática.
Beber a maior quantidade possível de líquido. Não é necessária nenhuma dieta. Procure alimentar-se normalmente.
É absolutamente necessário estar atento para as manifestações que podem indicar gravidade, o que pode acontecer, geralmente, a partir do momento em que a febre começa a ceder:
# dor constante abaixo das costelas, do lado direito (fígado).
# suores frios por tempo prolongado, tonteiras ou desmaios (pressão baixa)
# pele fria e pegajosa por tempo prolongado (pressão muito baixa)
# sangramentos que não param.
# fezes escuras como borra de café (sangramento intestinal)
Se qualquer uma destas manifestações aparecer, a pessoa deve ser levada imediatamente ao Serviço de Saúde mais próximo.
Perguntas & Respostas
1) O que é dengue?
É uma virose transmitida por um tipo de mosquito (Aedes aegypti) que pica apenas durante o dia, ao contrário do mosquito comum (Culex), que pica de noite. A infecção pode ser causada por qualquer um dos quatro tipos (1, 2, 3 e 4) do vírus do dengue, que produzem as mesmas manifestações. Em geral, o início é súbito com febre alta, dor de cabeça e muita dor no corpo. É comum a sensação de intenso cansaço, a falta de apetite e, por vezes, náuseas e vômitos. Podem aparecer manchas vermelhas na pele, parecidas com as do sarampo ou rubéola, e prurido (coceira) no corpo. Pode ocorre, às vezes, algum tipo de sangramento (em geral no nariz ou nas gengivas). O dengue não é transmitido de uma pessoa para outra.
2) O que uma pessoa deve fazer se achar que está com dengue?
– Procurar um Serviço de Saúde logo no começo dos sintomas. Diversas doenças são muito parecidas com o dengue, e têm outro tipo de tratamento.
– Beber bastante líquido, evitando-se as bebidas com cafeína (café, chá preto). Não é preciso fazer nenhuma dieta.
– Não se tratar por conta própria. Todos os medicamentos podem ter efeitos colaterais e alguns podem até piorar a doença. Não tomar nenhum remédio para dor ou febre que contenha ácido acetil-salicílico (AAS, Aspirina, Melhoral etc.) – que pode aumentar o risco de sangramento. Os antiinflamatórios (Voltaren, Profenid etc) também não devem ser utilizados como antitérmicos pelo risco de efeitos colaterais, como hemorragia digestiva e reações alérgicas. O paracetamol (Dórico, Tylenol etc), mais utilizado para tratar a dor e a febre na dengue, deve ser tomado rigorosamente nas doses e no intervalo prescritos pelo médico, uma vez que em doses muito altas pode causar lesão hepática.
3) Como é feito do diagnóstico de dengue?
O diagnóstico inicial é clínico (história + exame físico da pessoa) feito essencialmente por exclusão de outras doenças. É muito importante, por exemplo, saber se a pessoa não está com leptospirose ou doença meningocócica, que são tratáveis com antibióticos. Feito o diagnóstico clínico de dengue, alguns exames (hematócrito, contagem de plaquetas) podem trazer informações úteis quando analisados por um médico, mas não comprovam o diagnóstico, uma vez que também podem estar alterados em várias outras infecções. A comprovação do diagnóstico, se for desejada por algum motivo, pode ser feita através da sorologia (exame que detecta a presença de anticorpos contra o vírus do dengue), que começa a ficar reativa (“positiva”) a partir do quarto dia da doença.
4) É necessário esperar o resultado de exames para iniciar o tratamento?
Não. Uma vez que, excluídas clinicamente outras doenças, o dengue passa a ser o diagnóstico mais provável, os resultados de exames (que podem demorar muito) não podem retardar o início do tratamento. O tratamento do dengue é feito, na maioria das vezes, com uma solução para reidratação oral (disponível nas Unidades de Saúde), que deve ser iniciada o mais rápido possível.
5) A comprovação do diagnóstico de dengue é útil para o tratamento da pessoa doente?
Não. A comprovação sorológica do diagnóstico de dengue poderá ser útil para outras finalidades (vigilância epidemiológica, estatísticas) e é um direito do doente, mas o resultado do exame comumente estará disponível apenas após a pessoa ter melhorado, o que o torna inútil para a condução do tratamento. O exame sorológico também não permite dizer qual o tipo de vírus que causou a infecção (o que é irrelevante) e nem se o dengue é “hemorrágico”.
Quando o exame sorológicpo é realizado logo no começo da doença, um resultado “negativo” não permite afastar o diagnóstico de dengue. Nesse caso é necessária uma segunda amostra colhida, em geral, cerca de duas semanas após a primeira. Uma única amostra colhida após o décimo dia de doença permite uma certeza maior se o resultado for “negativo”. O exame sorológico permite detectar uma infecção recnte por cerca de dois meses, e poderá ser realizado mesmo após a pessoa ter ficado curada (nesse caso basta apenas uma amostra de sangue). Em qualquer dessas situações, o diagnóstico estará confirmado se o exame for “positivo”.
6) O que é dengue “hemorrágico”?
Dengue “hemorrágico” é o dengue mais grave. Apesar do nome, o principal perigo do dengue “hemorrágico” não são os sangramentos, mas sim a pressão arterial muito baixa (choque). É importante saber que outras doenças, como a meningite meningocócica, podem ser muito parecidas com o dengue, embora a pessoa fique grave muito mais rápido (logo no primeiro ou segundo dia da doença). O dengue pode se tornar mais grave apenas quando a febre começa a diminuir. O período mais perigoso começa a diminuir. O período mais perigoso está nos três primeiros está nos três primeiros dias depois que a febre começa a desaparecer. Pode aparecer qualquer uma dessas alterações:
# dor no fígado (nas costelas, do lado direito).
# tonteiras, desmaios
# pele fria e pegajosa, suor frio
# sangramentos
# fezes escuras, parecidas com borra de café
7) O que fazer se aparecer qualquer um desses sintomas?
Procurar imediatamente o Centro Municpal de Saúde ou o hospital mais próximo.
8) O dengue “hemorrágico” só ocorre em quem tem a doença pela segunda vez?
Não. A forma grave do dengue também pode ocorrer em quem tem a doença pela primeira vez.
9) O dengue “hemorrágico” é obrigatório em quem tem a doença pela segunda vez?
Não. O risco é maior do que na primeira infecção, mas a imensa maioria das pessoas que têm a doença pela segunda ou terceira vez não apresenta a forma grave do dengue.
10) Quantas vezes uma pessoa pode ter dengue?
Até quatro vezes, pois existem quatro tipos diferentes do vírus do dengue (1, 2, 3 e 4). No Rio de Janeiro, até agora, existem os tipos 1, 2 e 3. Cada vez que a pessoa tem dengue por um tipo, fica permanentemente protegido contra novas infecções por aquele tipo. É por isso que só se pode ter dengue quatro vezes.
11) Quem tem dengue fica com alguma complicação?
Não. A recuperação costuma ser total. É comum que ocorra durante alguns dias uma sensação de cansaçõ, que desaparece com o tempo.
12) Todo mundo que é picado pelo Aedes fica doente?
Não. Primeiro é preciso que o Aedes esteja contaminado com o vírus do dengue. Além disso, cerca de metade das pessoas que são picadas pelo mosquito que tem o vírus não apresenta qualquer sintoma.
13) O que fazer para diminuir o risco da dengue?
O Aedes aegypti é um mosquito doméstico, que vive dentro ou nas proximidades das habitações. O único modo possível de evitar ou reduzir a duração de uma epidemia e impedir a introdução de um novo tipo de vírus do dengue é a eliminação dos transmissores. Isso é muito importante porque, além do dengue, o Aedes aegypti também pode transmitir a febre amarela.
O “fumacê” é útil para matar os mosquitos adultos, mas não acaba com os ovos. Por isso, deve ser empregado apenas em períodos de epidemias com o objetivo de interromper rapidamente a transmissão. O mais importante é procurar acabar com os criadouros dos mosquitos. Qualquer coleção de água limpa e parada, inclusive em plantas que acumulam água (bromélias), pode servir de criadouro para o Aedes aegypti.
14) O que pode ser feito para eliminar o mosquito que trasmite a dengue e a febre amarela?
Não se deve deixar objetos que possam acumular água expostos à chuva. Os recipientes de água devem ser cuidadosamente limpos e tampados. não adianta apenas trocar a água, pois os ovos do mosquito ficam aderidos às paredes dos recipientes. Portanto, o que deve ser feito, em casa, escolas, creches e no trabalho, é:
# substituir a água dos vasos das plantas por terra e esvaziar o prato coletor, lavando-o com auxílio de uma escova.
# utilizar água tratada com água sanitária a 2,5% (40 gotas por litro de água) para regar bromélias, duas vezes por semana – 40 gotas = 2 ml.
# não deixar acumular água nas calhas do telhado.
# não deixar expostos à chuva peneus velhos e objetos (latas, garrafas, cacos de vidro) que possam acumular água.
# acondicionar o lixo domiciliar em sacos plásticos fechados ou latões com tampa.
# tampar cuidadosamente caixas d’água, filtros, barris, tambores, cisternas etc.
Fonte: Superintendência de Saúde Coletiva da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.
EXERCÍCIOS
1) (Fuvest-SP) Doenças como a dengue, febre amarela e mesmo a malária, há muito irradicada dos grandes centros urbanos brasileiros, podem reaparecer, como aconteceu recentemente em áreas urbanas como São Paulo e Rio de Janeiro. Uma condução que propicia o reaparacimento das doenças citadas é:
a) aumento exagerado do aumento da poluição do ar
b) ingestão de alimentos contaminados por agrotóxicos
c) proliferação de criadouros de mosquitos vetores
d) ingestão de água contaminada por esgotos
e) aumento de radiação ambiental causada por usinas nucleares
2) (Fuvest-SP) Que doenças poderiam ser evitadas com a eliminação de reservatórios de água parada onde se reproduzem insetos vetores?
a) cólera, dengue, esquistossomose
b) cólera, dengue, malária
c) cólera, esquistossomose, febre amarela
d) dengue, febre amarela, malária
e) esquistossomose, febre amarela, malária
3) (Cesgranrio) Alterações genéticas do transmissor pode acabar com a dengue.
“A engenharia genética está prometendo uma solução para um dos flagelos dos países tropicais como o Brasil. A idéia é impedir a implantação do agente causal nos transmissores” (Folha de São Paulo, 12/05/96)
O transmissor e o agente causal da dengue são, respectivamente, um:
a) mosquito e um vírus
b) mosquito e uma bactéria
c) percevejo e um vírus
d) percevejo e uma bactéria
e) barbeiro e um protozoário
4) (Unicamp-SP) Um pouco alarmado com a elevada ocorrência de dengue transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, um morador de Campinas telefonou para a Sucen (Superintendência de Controle de Epidemias) e relatou que havia sido picado na mata, à noite, por um mosquito grande e amarelado. Relatou também que, no dia seguinte, começou a ter febre e dores nas articulações. O biólogo da Sucen, ao saber que esse senhor não tinha viajado para qualquer região endêmica da doença, tranquilizou-o dizendo que certamente não teria contraído a dengue, embora fosse importante que ele procurasse atendimento médico. Cite três fatos relatados acima que levaram o bólogo da Sucen a concluir que essa pessoa não estava com dengue.
GABARITOS
1 C / 2 D / 3 A
4) 1º) O Aedes aegypti possui hábitos diurnos e o morador disse que foi picado à noite;
2º) ele não é amarelo, sua coloração é escura;
3º) ele têm hábitos urbanos, vivendo dentro ou nas proximidades de habitações urbanas – mas o relator relatou que foi picado na mata;
4º) ele não tem grande porte: é muito pequeno;
5º) o período de incubação do vírus é de alguns dias, assim, a doenção não se manifesta no dia seguinte ao da picada do mosquito. Além das considerações acima, o morador não viajou para regiões endêmicas da doença.
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