Físicos – Curiosos acima de tudo

Esta é a melhor definição para os físicos. Graduação exige muito
conhecimento prévio, dedicação máxima e prazer pela leitura. Carreira
está em alta, salários são bons, mas tem vaga que só com pós-doutorado.
Entender como o mundo funciona é o principal motivo de muitos alunos
que procuram a graduação em física. Diferente do que a maioria dos
estudantes do ensino médio pensa, física não é apenas aquela enxurrada
de fórmulas que vimos nas salas de aula. Ela é a principal ferramenta
para compreender a natureza e o mundo.
Entrar em um curso superior
sobre o assunto exige mais do que identificação do aluno com esses
questionamentos. Ele precisa ser apaixonado pelas ciências exatas,
conhecer o mundo dos números a fundo e ainda ter uma grande dose de
dedicação para encarar o curso, que é bem puxado.
“A física
ajuda as pessoas a entenderem como o mundo funciona. Ela vem como uma
ferramenta para compreender a natureza”, explica o coordenador do curso
da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Alexandro Tenório. Ele
avisa que para tentar entender isso não basta saber aquelas fórmulas
aprendidas no colégio. O estudante precisa ir além. “Eletem que ter uma
forte afinidade com todas as ciências exatas.
Tem que saber muito
matemática e física, se não ele não consegue fazer o curso”, avisa. No
estado, a graduação é oferecida de duas maneiras. O bacharelado e a
licenciatura. A diferença delas está no foco de cada uma. Enquanto o
bacharel em física é voltado para pesquisas, o estudante licenciado
está apto para ser professor de física.
“Mas isso não impede que quem
fez bacharelado ensine. Ele só vai precisar fazer um mestrado de ensino
ou em alguma área da física”, afirma Tenório. O bacharelado é oferecido
pela Universidade Federal de Pernambuco, enquanto a licenciatura é dada
pela UFRPE e a Universidade Católica de Pernambuco oferece os dois.
Noêmia
Patrícia da Silva, 21 anos, está no 5º perído do curso de licenciatura
em física e garante: a matéria é muito mais prática do que muita gente
pensa. “É uma área muito ampla, dinâmica. Ela lhe dá base para
compreender todo tipo de fenômeno da natureza”, conta. Mas Noêmia só
soube disso quando já estava dentro da faculdade. No colégio ela só viu
o básico da disciplina. “Só soube o que era física quando comecei o
curso de engenharia elétrica.
Já gostava da área, mas depois de
conhecê-la me apaixonei”, confessa. Assim como Silva, os alunos que
estão na graduação veem muito além da física clássica. Eles aprendem a
contemporânea, a moderna e ainda metodologias de ensino. “Eles vão ver
desde cadeiras relacionadas à matemática, como estatística, até
disciplinas como eletromagnestismo e física nuclear”, afirma Alexandro.
E
quem está interessado na graduação vale saber: ela é só o começo da
carreira. “Depois que você faz um mestrado, um doutorado, o leque de
oportunidades se abre muito mais. O aluno de física precisa ter
dedicação e foco para seguir bem na carreira”, avisa Tenório.
Mas
enquanto a hora das pós-graduações não chega, o jeito é se dedicar ao
curso superior. “É um curso bem puxado, exige um conhecimento muito
grande dos alunos e dedicação quase exclusiva. Quem entra em física tem
que estar preparado para trabalhar e gostar muito do que faz”, alerta
Tenório.
Pós-doutorado, para começar
Significado da física: “minha vida”. Se existisse um dicionário feito
por profissionais da área, seria assim que o curso e a profissão de
físico seriam descritos. Entrar no curso de física não é pensar em
vários empregos e nem em muitos trabalhos, mas, sim, em dedicação
exclusiva, em uma linha a ser seguida até o ponto mais alto da
carreira. Foi assim com o Ministro da Ciência e Tecnologia Sérgio
Rezende, com seu companheiro no departamento de física da Universidade
Federal de Pernambuco Cid Bartolomeu de Araújo, e com quase todos que
escolheram o curso.
Dedicação
é a palavra de lei para quem entra no departamento de física. Sem ela o
aluno não passa no vestibular, não termina o curso e nem consegue
seguir com sua carreira. “Não dá para entrar achando que vai ser fácil.
É um curso puxado, exige dedicação exclusiva do aluno, porque além das
cadeiras ele ainda pode entrar em um projeto de pesquisa”, explica o
físico e professor da Universidade Federal de Pernambuco, Cid
Bartolomeu de Araújo. Para chegar onde está, Bartolomeu carrega em seu
currículo mais do que cursos. Ele traz experiências de vida. Junto com
o atual ministro do MCT e outros profissionais, ajudou a fundar o
departamento de física da UFPE. “Na época que fiz vestibular não tinha
o curso aqui, então nos juntamos e resolvemos trazer a graduação para
cá”, lembra.
Depois disso, Bartolomeu não parou mais. Fez
mestrado e doutorado em física pela PUC e mais um pós-doutorado na
Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. “Para trabalhar com física
você precisa se qualificar”, avisa Araújo que ainda passou um ano na
IBM de Nova Yorque e algum tempo na França. Na entrevista dada ao Guia
de Profissões, Cid Bartolomeu dá algumas dicas para quem quer começar
na área e explica como anda o mercado atual em física, que em nada
lembra o da sua época.
O que o estudante precisa para entrar em física?
De
imediato, uma boa formação do colégio e uma boa carga de matemática e
física, porque durante o curso vai ser exigido do aluno um alto grau de
conhecimento. É fundamental que a pessoa também se identifique com a
área e goste bastante, caso contrário, não consegue terminar a
graduação. Hoje, apenas 50% dos que entram estão se formando. Então é
bom ter consciência de que é um curso puxado, difícil, mas que no final
vale a pena para quem gosta do que faz.
Onde um físico pode trabalhar?
Existem
várias áreas dentro da física. As principais são de ensino e pesquisa.
Dentro delas ainda tem as sub-áreas, que são aplicações da física,
física nuclear, teórica. O físico também pode atuar dentro dos
laboratórios do governo federal, que são ligados ao Ministério da
Ciência e Tecnologia. Outra área é a de indústrias. Apesar de ser um
pouco mais recente, as grandes indústrias já estão contratando físicos
para trabalhar com comunicações ópticas, nanociência e nanotecnologia.
Existe algum setor que esteja em crescimento ou que seja uma promessa para o futuro?
Os
setores que mais crescem atualmente são o de fotônica, que lida com as
propriedades da luz, gerando fontes para iluminação, como leds, lasers.
E também o de biofotônica, que usa essas propriedades da luz para
estudar os sistemas biológicos.
Como é o mercado de trabalho?
A
física é um mercado com grande potencial de expansão. Hoje, temos
pouquissímos físicos formados. É uma profissão que você não vai ver
pessoas desempregadas por um bom tempo. Isso é, se elas se qualificam,
porque para entrar no mercado são muitas as exigências. Em alguns
lugares, inclusive, você só entrar se tiver pós-doutorado.
Um mercado onde não faltam vagas ou que faltam profissionais qualificados?
Os
dois. Temos quatro universidades públicas aqui. As quatro tiveram
concurso recente para físico e poucas pessoas se inscreveram. Isso sem
contar com as particulares. Esperávamos mais gente. A física é uma área
que permite que o profissional atue emoutros departamentos também. Você
não precisa ficar necessariamente dentro do departamento de física. Dá
para ir para química, engenharia eletrônica, medicina.
E como é o salário do físico?
Para
quem está fazendo doutorado, a bolsa chega a R$ 2,2 mil. Agora o aluno
tem que ter dedicação exclusiva para o curso. Depois que ele termina e
investe em seu conhecimento pode ganhar de R$ 10 mil a R$ 15 mil nas
universidades federais. Quem trabalha em laboratório pode ter uma renda
até maior que isso, e quem ensina e São Paulo também tem salários
maiores.
O que você aconselha para quem quer começar?
Só
venha se tiver vocação. Na universidade o aluno vai trabalhar bastante,
vai ter que se esforçar mesmo. Se não sabe bem o que quer, ou não tem
muita certeza, não faça. Porque não vai valer a pena.
Pelo prazer de ser físico
As brincadeiras de infância nos joquinhos de laboratórios científicos
renderam muito mais que diversão para Celso Pinto de Melo. Elas lhe
mostraram qual seria sua profissão no futuro. Destinado a ser
cientista, não importava qual fosse a área, Celso foi em busca de
informações que pudessem lhe dizer que curso seguir. Acabou encontrando
a física, meio que ao acaso, e não largou mais dela. Cresceu na área,
foi até diretor do CNPq em Brasília e hoje é diretor do departamento de
física da Universidade Federal de Pernambuco.
Ele não lembra
quando, nem onde e nem por quê. Mas Celso só sabe que sempre teve
certeza de que seria um cientista.”Não tinha muitas informações a
respeito do que era trabalhar com ciência, mas já tinha na minha cabeça
que era isso que eu queria”, conta. A brincadeira que ele sempre fazia
quando lhe perguntavam o que ele seria quando crescesse, se tornou
realidade. Celso seria um cientista. No ano em que fez vestibular
escolheu a engenharia química, mas por apenas um motivo: o bacharelado
de física ainda não tinha chegado ao Recife. “Quando estava na metade
do curso a graduação de física veio para a UFPE e eu comecei a pagar
cadeiras de lá também”, lembra. De imediato Melo imendou um mestrado em
física também na UFPE e alguns anos depois um doutorado na Universidade
da Califórnia, em Santa Barbára, Estados Unidos. “De lá fui para o
Fulbrigth Senior Scholar, junto ao Departamento de Ciência de Materiais
de Massachusetts Institute of Technology, o MIT, em Cambridge, passar
um ano sabático, que é como chamamos o intercâmbio”, diz Melo. Tanta
identificação imediata com a área de física, Celso só atribui a uma
peculiaridade. A curiosidade nata. “Sempre me perguntava o por quê de
tudo. Gostava de ler bastante, era muito curioso. E isso é fundamental
para um físico”, avisa.
Na volta para o Brasil, Celso Melo foi
eleito diretor do CNPq em Brasília, um dos maiores órgãos de pesquisas
do país. O professor passou três anos na Capital Federal antes de se
fixar no departamento de física da UFPE. Onde ele foi coordenador,
vice- coordenador, e hoje é diretor do departamento.”Aqui montei um
grupo de pesquisa em polímetros não convencionais e não sai mais”,
conta. Mas para chegar até aí ele garante que só existe um meio, que em
nada tem a ver com mestrados, doutorados e cursos. É o prazer de ser
físico. Sem isso, ninguém da área chega a algum lugar. “Para ser físico
tem que ter aquele brilho no olhar de satisfação. Não dá para você
fazer o que não gosta”, afirma. Para quem está dando os primeiros
passos na física, Melo avisa: “O Brasil tem fortes chances de ser um
dos países líderes do mundo em ciência e tecnologia. Basta que as
pessoas saibam utilizar isso como um instrumento de desenvolvimento”,
alerta o físico que não se declara um profissional de sucesso, mas,
sim, realizado com aquilo que faz.
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