USP planeja aumentar oferta e benefícios do duplo diploma
As
odontólogas Marina Stella Bello Silva e Karen Muller Ramalho
obtiveram, recentemente, o título de doutoras pela Faculdade de
Odontologia (FO) da USP. E também a posição equivalente na Universidade
de Aachen, da Alemanha. Elas foram beneficiadas com o programa de duplo
diploma, estabelecido entre as duas universidades.
Fizeram parte do
curso aqui, parte na Alemanha, e tiveram orientadores nos dois países.Na prática, em poucas palavras, pode-se dizer que elas são “tão
doutoras” no Brasil quanto na Alemanha. Ou seja: podem se candidatar a
funções da carreira acadêmica, como o cargo de professoras ou
pesquisadores, em ambos os países, de maneira equivalente.
Os
duplos diplomas não são exatamente uma novidade, mas é algo que tem sido
intensificado pela USP nos últimos anos. Segundo o pró-reitor de
Pós-Graduação da Universidade, professor Vahan Agopyan, a instituição
eleva seus “padrões de qualidade” quando possibilita o método aos seus
estudantes. “Obtemos assim profissionais mais preparados e nos tornamos
mais competitivos no cenário internacional”, aponta.
Carlos de
Paula Eduardo, professor da FO e orientador de Marina e Karen,
acrescenta que o ganho também se estabelece pelo fato de que, com o
trânsito entre os estudantes, eleva-se também o diálogo entre os
pesquisadores das diferentes instituições. Eduardo é pesquisador
especializado no estudo de aplicações do laser na odontologia, tema no
qual a Alemanha é um dos países de maior destaque. Para ele, estabelecer
canais com os especialistas de outros locais é algo que enriquece, e
muito, a pesquisa nacional.
Caminhos
A Comissão de Cooperação Internacional
(CCInt) da USP é o braço da universidade responsável pelo
estabelecimento das parcerias com instituições do exterior. Da intenção à
formalização de um convênio, seguem-se rígidos e demorados passos que
envolvem análises de currículos, programas e, invariavelmente,
burocracia.
“Chegamos na Alemanha, cada uma, trazendo vinte
formulários – oito em português, seis em inglês e seis em alemão, com
tradução juramentada”, conta Karen Ramalho. De fato, o excesso de papéis
ainda é uma etapa que faz parte da jornada do estudante que quer se
especializar também no exterior.
Mas há evoluções nesse sentido –
e elas, indiscutivelmente, farão com que a vida do candidato ao
programa seja facilitada. “Atualmente, para cada aluno que vai ao
exterior é preciso estabelecer um protocolo específico. O que nós
queremos é simplificar o procedimento, fazendo com que um único trâmite
já seja suficiente”, conta o pró-reitor Vahan Agopyan.
Carlos de
Paula Eduardo aponta que um aspecto benéfico nas experiências das
doutoras Karen Ramalho e Marina Bello Silva – e outros casos semelhantes
– é pavimentar caminhos que possam ser trilhados com mais facilidade
por quem optar por repetir a experiência no futuro. Segundo o professor,
as agências de fomento – que, com programas de financiamento e custeio,
tornam viáveis as empreitadas de muitos alunos – sentem-se mais
encorajadas a contribuir para os processos quando percebem uma maior
segurança institucional. Karen e Marina contaram com o suporte de quatro
entidades para suas viagens: as brasileiras Capes e Fapesp e as alemãs
DAAD e FGD.
Retorno
“A USP tem cerca de
11.000 alunos em seus programas de doutorado. Acreditamos que seja
possível fazer com que, no mínimo, 10% desses tenham uma vivência
acadêmica no exterior”, diz o professor Vahan Agopyan. Atualmente,
segundo o pró-reitor, são cerca de 300 os estudantes da pós envolvidos
em programas deste perfil. A ampliação desta quantia é uma meta
declarada da Pró-Reitoria para os próximos anos.
Dado que a USP é
uma universidade pública, e que outras instituições que trabalham com
recursos públicos sejam protagonistas na viabilização destes programas,
há um questionamento que se mostra mais do que legítimo: qual o retorno,
para a sociedade, do envio de um pesquisador para o exterior?
A resposta-chave é: a formação de massa crítica, de profissionais
qualificados em tecnologias de ponta e que sejam aptos para replicá-las
em território nacional. No caso do laser em odontologia, área de
especialização do professor Carlos de Paula Eduardo e das odontólogas
Marina Stella Bello Silva e Karen Muller Ramalho, o fortalecimento do
corpo de profissionais pode ser um dos caminhos para que a tecnologia,
ainda restrita, se massifique e chegue até a se tornar mais presente na
rede pública de saúde, por exemplo.
Além disso, uma das opções
naturais para quem trilhou esse caminho é prosseguir na carreira
acadêmica, e assim seguir produzindo trabalhos científicos e levar o
tema ao conhecimento de outros futuros interessados.
“Se a USP é,
hoje, uma das principais universidades do país, é porque nunca ficou
parada. Sempre se movimentou, foi atrás dessa excelência. Acreditamos
que processos como o duplo diploma são benéficos para o pesquisador,
para a USP e, em última instância, para o Brasil”, completa Vahan
Agopyan.
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