Ex-faxineira vira pesquisadora do MIT e em Harvard

quando resolveu deixar o país em 1984. Não era apenas a crise econômica
que assolava o país que a incomodava, mas a falta de oportunidades para
“mulheres e, principalmente, mulheres de cor”, disse.
“Eu
entro naquele quadro ‘mulata do Sargentelli’. Tenho um corpo mais
moldado, sou alegre, comunicativa, simpática com as pessoas e, no
Brasil, se você tem essas características, essa passa a ser a sua única
característica”, disse Ilma à BBC Brasil.
“Pra mim foi revoltante, vi muita coisa e notei que, por mais capacidade que eu tivesse, seria muito difícil chegar onde meu
idealismo pensava que uma mulher como eu pudesse chegar”, contou.
Ilma tinha 20 anos e trabalhava como enfermeira em Governador Valadares quando soube que um empresário carioca estava ajudando
valadarenses a deixar o país.
“Quem
contou para a gente das oportunidades da vida lá fora, quem abriu nossa
mente foi o empresário Roberto White, que ajudou vários valadarenses a
deixarem o Brasil entre 1984 e 86. Eu vim com um grupo dele, com a cara
e com a coragem”, disse Ilma.
Ela desembarcou em Miami e, de lá, seguiu para Boston. Quando chegou à cidade, não falava nenhuma palavra em inglês e foi
dormir em uma quitinete com outras nove pessoas.
“Tinha gente dormindo até no banheiro”, recorda.
Líder comunitária
Depois de instalada em outra casa, junto com outros imigrantes brasileiros que também haviam ido com a ajuda de White, Ilma
começou a trabalhar na cozinha do Hotel Sheraton na cidade.
“Ninguém trabalhava menos que 60 horas por semana. Mas, na época, se ganhava bem, já dava para fazer uns U$7 ou U$8 por hora”,
conta.
Ilma
guardava dinheiro para ajudar a família no Brasil e continuar a vida
nos Estados Unidos. À medida que a situação melhorava, ela trazia os
parentes do Brasil. Quando teve a primeira filha, em 1987, chamou a
irmã e a sobrinha, depois trouxe o irmão e os sobrinhos.
Quando os
filhos já estavam um pouco maiores, ela começou a trabalhar como
doméstica. Foi a partir desse período que seu envolvimento com a
comunidade brasileira se tornou maior e aumentou seu interesse pelo
engajamento social e político.
“Limpando as casas, eu conheci várias famílias, criei um grupo de orações, fazia reuniões. Assim, foi surgindo uma comunidade
mesmo”, contou.
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Ilma recebendo um prêmio pelo projeto Handeiras. |
“Tinha um patrão brasileiro que me dava o jornal New York Times e as revistas New Yorker e Forbes
para ler e eu fui me interessando. Sempre que dava, fazia cursos
profissionalizantes, buscava cursos gratuitos e fui me especializando”,
conta Ilma.
Quando uma das sobrinhas entrou para a escola, em 1986, Ilma passou a trabalhar ativamente em campanhas para levantar fundos
para a instituição, fazia reuniões com pais e começou consolidar a trajetória de ativista social.
Seu interesse nas atividades sociais e como líder comunitária fez com que fosse eleita, mais de uma vez, como a presidente
da Bramas (Brazilian American Association), que presta assistência a brasileiros em Framingham.
Capacitação
No
entanto, foi o projeto Handeiras, criado por ela em 2003, com o intuito
de capacitar rendeiras brasileiras da comunidade indígena de Xukurus,
que lhe rendeu o título de professora associada no Centre for
Reflective Community Practice do Instituto de Tecnologia de
Massachussets (MIT, na sigla em inglês), que trabalha com
desenvolvimento econômico para comunidades e inovações comunitárias.
A idéia do
projeto é simples: Ilma vai até o Brasil, seleciona algumas peças
produzidas pelas rendeiras e as vende como produto artesanal em lojas
nos Estados Unidos. O dinheiro revertido é reinvestido na comunidade em
escolas, cursos de capacitação, construção de ateliês e outros
projetos.
Desde a criação, o projeto já ajudou a manter mais de 200 crianças na escola e já auxiliou mais de 300 agricultores, além
de garantir a renda para mulheres que produzem o artesanato.
“Para
mim, o grande motivo deste trabalho é porque vejo tantos brasileiros
aqui nos EUA que estariam vivendo muito melhor no seu país, ganhando um
salário e vivendo na sua terra. Alguns brasileiros que estão aqui
perderam o caminho de casa”, disse.
“Minha idéia é distribuir o trabalho deles para fora para que eles possam viver na sua terra, ter oportunidades no Brasil
e já conseguimos isso com o grupo que ajudamos”, contou Ilma.
O
modelo fez tanto sucesso que, neste ano, o projeto de capacitação
comunitária desenvolvido por Ilma foi aprovado pelo Ministério da
Cultura e, em três anos, será adotado em outras comunidades indígenas
do Brasil, em uma parceria com o Banco Interamericano de
Desenvolvimento.
O projeto de
capacitação também chamou a atenção do departamento de Língua
Portuguesa da Harvard e do grupo de agentes culturais da universidade,
onde Ilma foi convidada a trabalhar como pesquisadora para implementar
o modelo na comunidade brasileira da cidade de Framingham, em Boston.
“A realidade é a mesma em qualquer lugar que você vá, por isso, apesar de fazermos o projeto para a comunidade brasileira,
a capacitação pode ajudar comunidades de vários lugares”, conta.
“É maravilhoso poder retornar ao Brasil e fazer alguma coisa para ajudar”, disse Ilma.
Apesar do entusiasmo e dos esforços para auxiliar os brasileiros, Ilma não pensa mais em voltar ao país.
“Mesmo
achando que poderia ser de grande valor no meu país, não acho que o
Brasil valorizaria um talento como o meu. O Brasil é um país de
aparências e eu jamais conseguiria viver pensando que a sociedade está
mais preocupada com o que eu tenho do que com o que sou”, disse.


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