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Dicas

Ex-faxineira vira pesquisadora do MIT e em Harvard

2 de setembro
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Escrito porRedação

Ilma Paixão estava decepcionada com o Brasil

quando resolveu deixar o país em 1984. Não era apenas a crise econômica

que assolava o país que a incomodava, mas a falta de oportunidades para

“mulheres e, principalmente, mulheres de cor”, disse.

“Eu

entro naquele quadro ‘mulata do Sargentelli’. Tenho um corpo mais

moldado, sou alegre, comunicativa, simpática com as pessoas e, no

Brasil, se você tem essas características, essa passa a ser a sua única

característica”, disse Ilma à BBC Brasil.

“Pra mim foi revoltante, vi muita coisa e notei que, por mais capacidade que eu tivesse, seria muito difícil chegar onde meu

idealismo pensava que uma mulher como eu pudesse chegar”, contou.

Ilma tinha 20 anos e trabalhava como enfermeira em Governador Valadares quando soube que um empresário carioca estava ajudando

valadarenses a deixar o país.

“Quem

contou para a gente das oportunidades da vida lá fora, quem abriu nossa

mente foi o empresário Roberto White, que ajudou vários valadarenses a

deixarem o Brasil entre 1984 e 86. Eu vim com um grupo dele, com a cara

e com a coragem”, disse Ilma.

Ela desembarcou em Miami e, de lá, seguiu para Boston. Quando chegou à cidade, não falava nenhuma palavra em inglês e foi

dormir em uma quitinete com outras nove pessoas.

“Tinha gente dormindo até no banheiro”, recorda.

Líder comunitária

Depois de instalada em outra casa, junto com outros imigrantes brasileiros que também haviam ido com a ajuda de White, Ilma

começou a trabalhar na cozinha do Hotel Sheraton na cidade.

“Ninguém trabalhava menos que 60 horas por semana. Mas, na época, se ganhava bem, já dava para fazer uns U$7 ou U$8 por hora”,

conta.

Ilma

guardava dinheiro para ajudar a família no Brasil e continuar a vida

nos Estados Unidos. À medida que a situação melhorava, ela trazia os

parentes do Brasil. Quando teve a primeira filha, em 1987, chamou a

irmã e a sobrinha, depois trouxe o irmão e os sobrinhos.

Quando os

filhos já estavam um pouco maiores, ela começou a trabalhar como

doméstica. Foi a partir desse período que seu envolvimento com a

comunidade brasileira se tornou maior e aumentou seu interesse pelo

engajamento social e político.

“Limpando as casas, eu conheci várias famílias, criei um grupo de orações, fazia reuniões. Assim, foi surgindo uma comunidade

mesmo”, contou.

Ilma recebendo um prêmio pelo projeto Handeiras.

“Tinha um patrão brasileiro que me dava o jornal New York Times e as revistas New Yorker e Forbes

para ler e eu fui me interessando. Sempre que dava, fazia cursos

profissionalizantes, buscava cursos gratuitos e fui me especializando”,

conta Ilma.

Quando uma das sobrinhas entrou para a escola, em 1986, Ilma passou a trabalhar ativamente em campanhas para levantar fundos

para a instituição, fazia reuniões com pais e começou consolidar a trajetória de ativista social.

Seu interesse nas atividades sociais e como líder comunitária fez com que fosse eleita, mais de uma vez, como a presidente

da Bramas (Brazilian American Association), que presta assistência a brasileiros em Framingham.

Capacitação

No

entanto, foi o projeto Handeiras, criado por ela em 2003, com o intuito

de capacitar rendeiras brasileiras da comunidade indígena de Xukurus,

que lhe rendeu o título de professora associada no Centre for

Reflective Community Practice do Instituto de Tecnologia de

Massachussets (MIT, na sigla em inglês), que trabalha com

desenvolvimento econômico para comunidades e inovações comunitárias.

A idéia do

projeto é simples: Ilma vai até o Brasil, seleciona algumas peças

produzidas pelas rendeiras e as vende como produto artesanal em lojas

nos Estados Unidos. O dinheiro revertido é reinvestido na comunidade em

escolas, cursos de capacitação, construção de ateliês e outros

projetos.

Desde a criação, o projeto já ajudou a manter mais de 200 crianças na escola e já auxiliou mais de 300 agricultores, além

de garantir a renda para mulheres que produzem o artesanato.

“Para

mim, o grande motivo deste trabalho é porque vejo tantos brasileiros

aqui nos EUA que estariam vivendo muito melhor no seu país, ganhando um

salário e vivendo na sua terra. Alguns brasileiros que estão aqui

perderam o caminho de casa”, disse.

“Minha idéia é distribuir o trabalho deles para fora para que eles possam viver na sua terra, ter oportunidades no Brasil

e já conseguimos isso com o grupo que ajudamos”, contou Ilma.

O

modelo fez tanto sucesso que, neste ano, o projeto de capacitação

comunitária desenvolvido por Ilma foi aprovado pelo Ministério da

Cultura e, em três anos, será adotado em outras comunidades indígenas

do Brasil, em uma parceria com o Banco Interamericano de

Desenvolvimento.

O projeto de

capacitação também chamou a atenção do departamento de Língua

Portuguesa da Harvard e do grupo de agentes culturais da universidade,

onde Ilma foi convidada a trabalhar como pesquisadora para implementar

o modelo na comunidade brasileira da cidade de Framingham, em Boston.

“A realidade é a mesma em qualquer lugar que você vá, por isso, apesar de fazermos o projeto para a comunidade brasileira,

a capacitação pode ajudar comunidades de vários lugares”, conta.

“É maravilhoso poder retornar ao Brasil e fazer alguma coisa para ajudar”, disse Ilma.

Apesar do entusiasmo e dos esforços para auxiliar os brasileiros, Ilma não pensa mais em voltar ao país.

“Mesmo

achando que poderia ser de grande valor no meu país, não acho que o

Brasil valorizaria um talento como o meu. O Brasil é um país de

aparências e eu jamais conseguiria viver pensando que a sociedade está

mais preocupada com o que eu tenho do que com o que sou”, disse.

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