Medicina da UFJF perde posições entre as melhores

A Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), curso mais concorrido dos 31 existentes na instituição, não aparece mais entre as 20 do país no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) de 2007.
Em 2004, quando foi avaliado pela primeira vez, o curso alcançou a nota máxima, 5 de conceito, destacando-se entre os melhores. Embora não exista um ranking oficial, a comparação de resultados permite observar que a faculdade ocupava a 19ª posição naquele ano, caindo para a 30ª posição.
Se for analisado apenas o conceito do Enade e o Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado, o IDD, – deixando de fora a média de formação geral e do componente específico -, a medicina está empatada com outras dez do país na 21ª posição, seis posições abaixo do que em 2004, quando ocupava a 15ª colocação no Brasil ao lado de outras sete instituições.
O resultado divide opiniões, já que tanto o Diretório Acadêmico (DA) da Medicina, quanto a direção do curso defendem que o Enade é apenas um dos processos de análise do Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior (Sinaes). Apesar disso, o desempenho no exame pode ser um reflexo do momento pelo qual passa a faculdade.
Sucateada na sua estrutura física e com uma perda histórica de 50 vagas de professores ao longo de pouco mais de uma década, em função principalmente de aposentadorias, a medicina funciona com deficiências. A escassez de docentes no curso que, este ano, bateu o recorde histórico de 54,8 candidatos/vaga no vestibular, parece ser uma das mais graves da instituição.
Atualmente, a medicina tem 98 professores efetivos em seus quadros e cerca de 60 substitutos para ensinar a 960 alunos da graduação. O número total de professores de toda a faculdade, 158, representa cerca da metade do quadro de docentes de apenas um departamento, o de pediatria, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que tem quantitativo de alunos semelhante ao da UFJF.
Mas nem sempre foi assim. Só o departamento de clínica médica do curso de Juiz de Fora tinha 110 professores efetivos. Hoje, no entanto, conta apenas com a metade. No geral, a redução no quadro de docentes foi de 30%, segundo admite o diretor Júlio Chebli.
Prédio sucateado
As deficiências estruturais no prédio do Centro de Ciências e Saúde (CCS) também chamam a atenção. A instituição tem espaço físico restrito e déficit de salas de aulas – seriam necessárias oito a mais para atender a demanda. Os laboratórios disponíveis para o aprendizado dos alunos são modestos e com poucos equipamentos. No de patologia, por exemplo, o mofo toma conta das paredes e cortinas.
Já na sala de técnicas, onde fica o material de microscopia, os vasilhames plásticos que contêm partes do corpo humano dividem espaço com o material de limpeza. “Hoje não contamos com espaço físico adequado às necessidades da faculdade, mas temos a promessa de construção de uma nova faculdade de medicina, ao lado do CAS/HU, projeto no qual a Reitoria está muito sensibilizada.
Além disso, as deficiências estruturais têm sido contornadas através de parcerias com as instituições que atuam junto ao SUS, como a Santa Casa, a Maternidade Therezinha de Jesus, o Hospital de Pronto Socorro (HPS), as unidades básicas de saúde e estágios comunitários regionais em cidades vizinhas”, informa Chebli.
Ele também destaca a conquista de projetos, como o Programa de Incentivo às Mudanças Curriculares para as Escolas Médicas, o Promed e o Pró-Saúde, que contemplaram apenas 21 das 167 faculdades de medicina do país, entre elas a da UFJF. “Temos mantido uma regularidade no Enade.
No entanto, acredito que, nos próximos anos, com a consolidação da reforma curricular e uma nova estrutura física, vamos avançar ainda mais nesse conceito. Tanto o Promed, quanto o Pró-Saúde, além da pós-graduação stricto sensu, vão contribuir para um salto de qualidade da faculdade”, acredita o diretor.
Resultado deve ser visto como alerta
Apesar de o Enade ser questionado pelo próprio Diretório Acadêmico de Medicina, em função de alunos de diversas faculdades do país terem boicotado a prova, o resultado do exame deve ser considerado um alerta. Essa é a opinião do pró-reitor de Graduação, Eduardo Magrone. “Significa que nós, a UFJF, estamos agregando menos valor ao aluno em relação ao último ano avaliado, e isso deve ser uma preocupação não só para a Pró-reitoria de Graduação, mas para os professores da medicina.”
A pontuação no Enade confirma a observação de Magrone. Os alunos obtiveram conceito 4, enquanto o Indicador de Diferença Entre os Desempenhos Observado e Esperado (IDD), relacionado à instituição, foi de 3 pontos. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o IDD tem o propósito de trazer às instituições informações comparativas dos desempenhos de seus estudantes concluintes em relação aos resultados obtidos, em média, pelas demais instituições cujos perfis de seus estudantes ingressantes são semelhantes.
Entende-se que essas informações são boas aproximações do que seria considerado efeito do curso. “Na prática, a grosso modo, significa que os alunos estão melhores que a instituição”, explica a assessoria de imprensa do Inep, em Brasília.
O descumprimento da jornada de trabalho pelos docentes em atividade na medicina é outra velha reclamação dos estudantes. Além disso, nas salas de aula da faculdade, ainda é possível encontrar o retroprojetor, embora o datashow esteja liberado para o uso dos docentes. Outro fato apontado é que um docente teria sido flagrado aplicando a mesma prova por anos seguidos. Para tentar inibir essa conduta, a direção da faculdade decidiu distribuir as provas ao invés de arquivá-las.
Diante da realidade, Magrone destaca a importância de a universidade reativar a sua comissão de avaliação. A implantação da Secretaria de Avaliação Institucional, que está em fase de conclusão, também poderá contribuir com a melhoria do quadro, a partir da discussão dos resultados com as comunidades da UFJF.
“A resposta do professor é fundamental no desenvolvimento de qualquer atividade acadêmica, mas não tenho dados para avaliar se a queda no Enade se deve à falta de compromisso dos nossos professores. Apesar de haverem ruídos, afirmar isso seria leviano”, diz Magrone.
O coordenador geral do DA, José Gustavo Sobreira de Oliveira, considera necessária uma avaliação dos professores pela instituição e pelos alunos, mas destaca a qualidade de boa parte dos profissionais que integram os quadros da medicina. “Apesar dos problemas, a Faculdade de Medicina da UFJF está acima da média e é reconhecida como uma das melhores do país.”
“Avaliando cruamente, só com nota, vejo a faculdade num momento bom, embora tenhamos potencial para melhorar muito. O Enade avalia a formação generalista e não especialista, exatamente o que temos buscado desde a implantação da reforma curricular”
Júlio Chebli,
diretor da Faculdade de Medicina da UFJF
“O Enade não vê se o aluno que sai da universidade tem uma boa relação médico/paciente, se tem habilidade no procedimento e uma atitude positiva perante o paciente”
Tiago Grassano Lattari,
coordenador de educação médica do Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina da UFJF
Avaliados já estão em novo currículo
A turma da Faculdade de Medicina da UFJF avaliada pelo Enade é a primeira que passou pela reforma curricular, iniciada há oito anos pela instituição, a partir do estabelecimento de novas diretrizes curriculares nacionais definidas pelo MEC. O objetivo da mudança é substituir a antiga formação de especialista, que existia desde a graduação, pela formação generalista, que visa integrar o futuro médico aos serviços básicos de saúde, o que constitui um novo paradigma de formação.
“Os cursos de medicina, até então, estavam voltados para a alta complexidade e para os tratamentos caros que dão mais status para o médico. A medicina básica, o atendimento preventivo, não ocupou um lugar valorizado nos cursos da área de saúde. O MEC percebeu que, se não houver investimento na atenção básica, desde a formação do aluno, o custo da saúde no Brasil vai aumentar cada vez mais. A idéia da medicina básica é fazer com que a formação do médico se aproxime da realidade do SUS. Essa proposta constitui um desafio intelectual, porque é preciso deslocar uma visão em favor de outra, e isso não se faz só com recursos, mas com um novo olhar para a formação”, analisa o pró-reitor de Graduação, Eduardo Magrone.
O diretor da faculdade, Júlio Chebli, diz que o objetivo é fazer com que a maior parte do curso seja voltada para a prática. “A faculdade vem buscando a formação generalista desde a reforma curricular. Nossa intenção é que ela se torne 90% prática.”
– O que é o Enade?
O Exame Nacional de Avaliação do Ensino Superior foi criado, em 2004, pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) em 2004. O Enade é componente curricular obrigatório dos cursos de graduação.
– Qual o objetivo do Enade?
– Avaliar o desempenho dos estudantes com relação aos conteúdos previstos nas diretrizes curriculares dos cursos de graduação, o desenvolvimento de competências e habilidades necessárias ao aprofundamento da formação geral e profissional, e o nível de atualização dos estudantes com relação à realidade brasileira e mundial, integrando o Sinaes, juntamente com a avaliação institucional e a avaliação dos cursos de graduação.
– Conceito da Faculdade de Medicina no Enade 2004: 5
– Conceito da Faculdade de Medicina no Enade 2007: 4
Estude nas melhores sem sair de casa
As melhores faculdades com ofertas super especiais para você começar a estudar sem sair de casa.