Uso freqüente da internet reduz capacidade de ler textos longos
Os artigos e livros de Nicholas Carr têm sido
uma fonte de desgosto para os aficionados de internet. No início deste
ano, o jornalista e escritor americano lançou The Big Switch (“A grande
virada”), em que revela os perigos de uma rede de computadores cada vez
mais inteligente e poderosa.
Agora volta à carga em artigo na revista
Atlantic Monthly, no qual aborda uma ameaça mais sutil do mundo
virtual. Carr deu-se conta dela ao perceber que tinha cada vez menos
paciência para ler textos longos ou livros. Sua concentração se
dispersava depois de duas ou três páginas. “Estou sempre tentando trazer minha mente de volta ao texto”,
diz.
O que antes fazia com prazer virou um martírio. “Não penso mais da
maneira que costumava pensar”, lamenta. Carr está convicto de que não
se trata de um problema pessoal. Ex-editor da Harvard Business Review,
ele ouviu blogueiros e intelectuais que confessaram igual dificuldade
para chegar até o último parágrafo de um livro.
Carr acredita que a internet transformou nossas mentes. Os meios de
comunicação não são canais passivos de informação. “Eles fornecem o
conteúdo de nossos pensamentos, mas também modelam o processo de
pensamento”, diz Carr, citando o pensador canadense Marshall McLuhan.
Resultado? Um internauta que salta de site em site condiciona a mente a
receber informações de forma rápida e superficial.
Os circuitos
neurológicos adaptam-se a essa nova realidade, afirma o escritor,
baseado em pesquisas que mostram que o cérebro, mesmo o de adultos, é
dotado de enorme plasticidade. “O cérebro consegue se reprogramar em
pleno vôo, alterando a forma como funciona”, afirma o neurocientista
James Olds, da George Mason University, em apoio aos argumentos de Carr.
Com pouca paciência para textos longos, leitores do mundo virtual limitam-se a ler títulos e resumos |
Uma pesquisa recente da University College London confirma a
dificuldade que as pessoas têm hoje de mergulhar em textos longos. O
levantamento examinou, durante cinco anos, o comportamento dos
visitantes de dois populares sites de pesquisa – da Biblioteca
Britânica e de um consórcio de instituições de ensino – que dão acesso
a jornais, e-books e outras fontes de informação. Descobriram que os
usuários exibem um comportamento ligeiro e inconstante.
Lêem no máximo
uma ou duas páginas de um artigo ou de um livro antes de trocar de
site. Alguns arquivam textos longos, mas raramente voltam a
consultá-los. “Fica evidente que os usuários não lêem no sentido
tradicional”, dizem os autores do estudo. “É uma nova forma de leitura.
Navegam por títulos, sumários e resumos de textos. Parece que estão
online apenas para evitar uma leitura no sentido tradicional.”
A mesma superficialidade parece contaminar a academia, segundo
estudo recente do sociólogo James Evans, da universidade de Chicago.
Apesar de ter à sua disposição uma quantidade cada vez maior de versões
online de publicações científicas, os pesquisadores tendem a pesquisar
na internet um número reduzido de artigos – os mais comentados entre os
colegas, ignorando todo o restante. “A pesquisa científica online
acelera o consenso”, diz Evans.
É um comportamento bem diferente
daquele exibido por pesquisadores de outras eras, que gastavam um tempo
enorme fuçando trabalhos em bibliotecas e que, pela própria natureza da
consulta, esbarravam em trabalhos de diferentes campos do conhecimento,
que, ao final, acabavam sendo citados nos seus estudos.
A repercussão do artigo de Carr foi imediata. Em seu blog, o
escritor Evan Ratliff, disse que o uso incessante da internet
provavelmente afeta também a nossa memória, uma vez que não temos mais
a necessidade de lembrar daquilo que está facilmente à nossa disposição
no universo virtual. O que não é, necessariamente, negativo. São
circuitos neurológicos que podem ser empregados em outras atividades.
Muitos apontam um pessimismo exagerado em Carr. O jornalista Kevin
Kelly, afirma em seu blog que, se o nosso desempenho intelectual cai
quando estamos fora da rede, melhora quando estamos online. “Será
que não ficamos mais idiotas quando estamos fora do Google, mas mais
espertos quando estamos no Google? É muito provável que sim”, diz.
Para Danny Hillis, escritor e consultor da IBM e da Hewlett-Packard, o
autor de The Big Switch erra ao apontar o culpado. “O dilúvio que está
nos afogando é o do excesso de informação”, afirma. Para ele, o Google
e outros instrumentos da internet apenas nos ajudam a sobreviver em
meio ao enorme fluxo de dados da sociedade contemporânea.
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